A força da atração
Tem horas em que o mundo nos coloca de cabeça prá baixo. Literalmente. A gente nem sente a força que a natureza faz prá nos manter com os pés no chão, prá que a gente não despenque céu abaixo e acabe flutuando à deriva pelo resto da vida.
Tem horas em que o mundo se apóia nos nossos ombros. Parece castigo de eternidade. A gente se sente oprimida, espremida e fica até custoso respirar. Mas a gente faz das tripas coração e respira bem fundo buscando no ar a salvação pro nosso mundo.
Tem horas em que o mundo nos deixa num ângulo torto, inclinado, assim meio de lado como que tentando ver o que se passa por trás das coisas e as coisas se inclinando junto num ângulo reto com o mundo em plena cumplicidade.
Tem horas em que o mundo é tão estranho que nos põe pelo avesso, tanto é o remelexo só de saber que existe um eixo imaginário que torna tudo real... e acontece a noite, acontece o dia e o tempo gira e gira pião espiral cata-vento moinho de vento tufão... às vezes, ao redor do olho, fica tudo nublado num maior turbilhão. Tem horas que busco explicação. Procuro enxergar as coisas de outro jeito, sob um ângulo diferente, um pouco mais de luz aqui, um sombreado ali, dar um toque alaranjado de sol entrando na casa, realçar um rosado na face, às vezes ensaio um sorriso na frente do espelho... tem horas que é tão difícil sorrir, ainda mais quando a gente não consegue chorar. Nada mais prazeroso do que um sorriso rasgado depois de um choro encharcado...
Tem horas que é bom ver chover, um raio cortando o céu é um espanto, um arco-íris um encanto e a gente vai levando, cantarolando essa bola, rolando com ela num tapete ora azul celeste, ora branco, ora cheio de brilhinhos piscando nos olhos negros da noite. Nessas horas a gente nem sente o eixo se inclinando, as coisas prumadas pouco importam. O avesso vira do avesso do avesso do avesso... de cabeça prá baixo, ou não, a gente olha mesmo é prá cima e pensa em alguém, sempre se tem alguém prá pensar. Nessa hora a gente nunca mente.
Tem horas que o mundo é estranho, extremamente estranho e atraente.