OS TRÊS CANDIDATOS

E lá iam eles, na senda tortuosa que levava até à grande cidade. Debatiam algum debate inútil.

Um disse: Eu consigo!

- Não consigo, comigo! Eu sou mais capaz que você! Você é tão burro!

-Vocês são dois burros! Eu sou bom, querem ver?

Eram três. Um era o Cabeçudo, como apelidaram os outros; outro era alcunhado Mentiroso, porque mentia muito; e o outro era o Sr. Calaboca. Debatiam sobre quem conseguia pular do topo mais alto.

- Eu consigo! exclamava Cabeçudo.

- Não, eu! redargüiu Mentiroso.

- Até parece! Já disse que sou eu o bom! E calaboca!

Idiotas! Por que não fazem uma competição? Todos pulam do topo que considerar mais alto, e o que pular do topo mais alto é o vencedor.

- Era o que ia dizer. Respondeu-me o mais cabeçudo.

- Que nada! Essa idéia é minha, retrucou Mentiroso.

- Que idéia? indagou Calaboca.

No dia seguinte, estavam todos preparados. Nas ruas da cidade, a multidão afluía, carregando cartazes, com mensagens tais como: “Cabeçudo é o melhor! Vote cabeçudo!”, “Mentiroso honra suas palavras”, “Calaboca! porque Calaboca vai falar”. E carros de som passeavam cantando musiquinhas.

“O melhor é nosso candidato!

Vai mudar nossa história...”

E as músicas eram tão emotivas, que, ainda agora, estou a chorar, lembrando delas. E o povo vociferava, e xingava, e alguns cantavam soltando peidos ou fazendo barulhos com o sovaco, etc.

Chegou a hora. O povo fremia. O primeiro a pular seria o Cabeçudo. Subiu num prédio de dez andares e pulou. Tinha uma capacete super-protetor na cabeça. Caiu de pés no chão, afundou e ficou preso. A multidão aproximou-se para ver se estava bem. A realidade era que o Cabeçudo havia morrido.

Depois, foi a vez de Mentiroso. Ele havia dito que ia pular das nuvens, mas decidiu pular da maior montanha do mundo (apenas pelo fato não revelado de que era mais baixo). Pulou e caiu num ninho dum enorme gavião. Alí está seu túmulo. Mentiu, porque havia dito que ia ser enterrado no cemitério particular que mandara fazer para ele mesmo.

O último a pular foi o Sr. Calaboca. Este pulou mais alto. Pulou de uma nave espacial, fora da atmosfera terrestre, mas não caiu, e ninguém nunca mais o achou. Sumiu. Até hoje deve estar viajando pelo vasto Universo.

E esse foi o fim dos três “candidatos” ao recorde de salto do topo mais alto. Eles chegaram ao auge... da ironia, da babaquice, da ignorância, e caíram feio.

Luiz Carlos Martins B Bueno Dantas de Oliveira
Enviado por Luiz Carlos Martins B Bueno Dantas de Oliveira em 06/10/2008
Reeditado em 06/10/2008
Código do texto: T1214211
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