Nem todo Blues é triste!
Entraram no quarto e viram-lhe em coito com as melodias do grande B.B. King (Clapton, aliás, esperava sua vez bem logo depois de Joplin, com quem teria casado se nascesse a uns dez anos antes do que nascera...).
Coito interrompido.
Alguém em resmungos adentrou no quarto escuro dizendo:
“- Que puta música triste cara!”
O franzino rapaz gritou como a própria Janis: “-Porra cara, me deixa!”.
“-Hei, calma, tudo bem...”
Saíram do quarto e o garoto voltou a seu mundo sem luzes na noite.
Os dias daquela semana não eram bons para o garoto.
Havia descoberto que não era filho, que era pai e que a namorada o traía. Naquele dia choveu três vezes e um ônibus havia lhe sujado as calças com a lama de um desses muitos buracos que a cidade possui. Seu cachorro Vênus havia morrido (nem gostava de cão, mais tinha um... Era legal ter. Diminuía a solidão)... O mundo não lhe dera tempo para cogitar sobre que atitude tomar diante dos problemas. Haviam seqüestrado Caetano Veloso de sua coleção de discos e o Circuladô de Fulô não mais se ouvira. Raul Seixas, companheiro das muitas noites de tédio, parecia estar gago, já que a Mata Virgem estava riscada pelo tempo... O som do disco estava péssimo!
Maldição? Não. Devia ser a vida. Só isso.
Ficar mal com as coisas já era tão comum que nada mais lhe assustava. E isto lhe assustava - Estaria endurecendo como as cidades e suas paredes de concretos?
...
Tudo ia mal. Tudo estava mal...
E o blues? Bem, o blues lhe curava as dores. Cicatrizava as feridas da vida. Contava-lhe estórias; mostrava-lhe um mundo diferente.
Os solos de guitarra lhe impressionavam sempre. E a gaita então? De tanto gostar, havia comprado uma dessas comuns mesmo que os camelôs sempre têm para vender.
O blues não era triste, era fortificante, energético, catalisador, um funil para as tormentas do mundo... Tudo, menos sinônimo de tristeza a seu ouvido.
E eram assim seus dias: nas manhãs e tardes, uma nova cicatriz de crescimento e maturidade; à noite, um blues energético pra dar gás ao dia seguinte...
Ciclo tedioso... Mas lhe disseram que era necessário, que encurtar o caminho até a próxima vida era pecado e sinônimo de fraqueza.
Empurraram-lhe a vida e não perguntaram seu interesse nisso... Então ninguém, ouçam bem, NINGUÉM tem o direito de lhe dizer que o blues é ruim ou que é triste!
O caminho vai ser seguido normalmente até os vinte e sete. Sem reclamação aos demais...
Contanto que não falem mal do seu blues, de B.B. King, de Janis, de Clapton e de Lennon e os Beatles, que andaram também com um pezinho nas guitarras Billy e B.B.
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