A semana

Estou a uma semana sofrendo com dores de parto por um texto. Ainda não surgiu na minha cabeça que texto será, se uma crônica ou um conto, mas já cheguei a conclusão do quão difícil é a arte de escrever.

Passei todos esses dias imaginando temas para desenvolver. Comecei a escrever sobre um dia de chuva no Rio de Janeiro. Como a cidade fica um caos, as pessoas ficam ao mesmo tempo nostálgicas e nervosas. Fiquei na sétima linha. Depois pensei em escrever um conto de amor, alguma história doce e açucarada. Criei os personagens, escolhi o local dos acontecimentos, mas a história não apareceu. Acho que nesse clima agitado que a cidade anda não consigo falar de amor. Já repararam como as horas estão correndo nesse dias que precede as eleições? As pessoas andam correndo ou das meninas que entregam os santinhos ou para escapar das bandeiras que quase levam nossas cabeças.

Os dias foram passando e a angustia aumentando. Sábado preciso entregar um texto pronto. Resolvi sair com as amigas. Distrair a mente, conversar, dar boas gargalhadas. Cinco mulheres reunidas, falando como loucas. Sairia dali com certeza o tema para o meu texto. Mulheres sempre rendem bons textos. Complicadas e perfeitinhas como diz a música, seria fácil escrever meu texto. Dentre os assuntos mais falados com certeza estavam os homens. Na verdade, a falta deles.

Na nossa mesa era clara a evolução feminina. Cinco mulheres independentes, bonitas e se dizendo bem resolvidas. Mas essa idéia de bem resolvidas se perde quando a primeira começa a falar do ex. E a outra logo se lembra do ex antes do último ex. Engraçado como mulher sempre tem uma história com ex pra contar. Graças a Deus que as pizzarias são criativas e o chocolate faz parte de várias receitas. Depois de um bom pedaço de pizza de chocolate com morango, não tem ex ou atual que nos faça ficar triste.

A noite foi ótima, mas e o meu texto, será que conseguiria criar quando fosse para casa? Que nada. A única coisa que consegui foi a dificuldade de sair da cadeira. Além de conversar e rir bastante, deixamos todas as dietas de lado e comemos sem culpa, mesmo que temporariamente.

Voltei para casa e a ansiedade se apoderou novamente da minha alma. Vou ligar para o meu noivo. Com certeza ele vai me ajudar, duas cabeças pensando, meu texto ficará ótimo. Ouvi dele que eu estava enrolando, que escrever era tarefa fácil, só entrar na Internet, ler algumas histórias, se inspirar e depois escrever. Porque não consegui enxergar essa simplicidade durante toda a semana?

Liguei o computador decidida a escrever, era a hora exata e meu texto teria de nascer. Uma página em branco, só com o cursor piscando. Vai, pulem palavras. Comecem a preencher a página. Como é difícil começar. Fico pensando que o mais complicado na hora de criar um texto seja a escolha do tema. Depois do tema escolhido deve ser fácil, as palavras devem pular dos dedos para o teclado do computador sem dificuldade.

Como meus escritores favoritos são pessoas de sorte ou de vida movimentada. Conseguem ver em tudo um motivo pra escrever um texto. Tudo vira crônica. Tudo é tema. E eu, continuo na luta.

O tempo passou e como o cursor não cansa, eu cansei. Decidi. Quer saber, resolvi falar pra minha mestra no sábado que não consigo escrever. Que o tema não se apoderou de mim e que talvez, a arte de escrever não seja de fato ofício para minha pessoa. Acho que talvez ela concorde comigo e me diga que estou na profissão errada ou quem sabe ela me diga que escrever é uma arte que se pode aprender.

Não sei. Vou esperar.