EU SÓ NÃO TIVE PALAVRAS
“Muitos não sabem dizer:
“eu te amo” e acabam
Deixando passar o momento”
(autor desconhecido)
Estou aqui à maneira de Manuel Bandeira, que certa feita confessou que andava sentindo falta de qualquer coisa, que não sabia bem o que era, e que tal estado lhe causava na alma uma insatisfação, um enfaramento.
O poeta e cronista, bem mais feliz que eu, de estalo descobriu e deixou registrado na crônica intitulada “Braga”, que faz parte do livro “Flauta de Papel”, o que lhe faltava: era a crônica diária de Rubem Braga, de quem dizia: “Braga é o estilista cuja melhor performance ocorre pela escassez de assunto”.
Enquanto eu, que de Braga só tenho a falta de assunto, destituída de estilo e performance, fico aqui a espera de um estalo, que possa me tirar desta insatisfação, o que para mim não se prende a leitura diária de uma crônica, pois se assim fosse, estaria em paz e bem servida, tai os cronistas deste Recanto, para nos enlevar.
E se estava insatisfeita, assim permaneci. Chegou até mim uma pessoa querida, que ficaria bem, situada numa frase deixada por Berilo Wanderley (aqui da minha terra), que diz: “ Quantos tipos perdidos por aí, em busca de autores”. Não, eu não servi de muro das lamentações para a minha amiga e a deixei partir... Cabeça baixa, ombros caídos, passos arrastados, mais parecendo o ser de “Eterna Mágoa”, da poesia de Augusto dos Anjos. Juro, não foi a insensibilidade a causadora do meu silêncio, eu só não tive palavras. Mas, o que dizer a uma pessoa que tem a vida oscilando entre a dor e o tédio, de espírito obtuso a arrastá-la sempre a fonte do sofrimento , sem nunca preencher o vazio interior, a debater-se numa luta permanente, sem saber fugir nem se libertar, que busca refúgio no amor e nele também a dor encontra... E quer saber de mim para quê o viver?
E eu que não dei o nó “górdio” na vida de minha amiga, pois não sou o rei da Fugia, só não tive a idéia de Alexandre Magno, que ao invés de tentar desatá-lo cortou com a espada.