O Sol Brilha na Imensidade

O Sol Brilha na Imensidade era o título de um filme a que assisti ai por volta de 1954, no Cine Santa Maria, em Campinas, que hoje já não mais existe.

A historia se passava numa pequena cidade do Sul dos Estados Unidos, durante a década de 1930. A cidade era muito conservadora e com forte preconceito contra aqueles que vinham de outro lugar para morar ali, independente de cor ou de credo.

Um moço, Fred, que viera morar ali vindo de uma cidade grande como São Francisco, não era bem visto pela sociedade local, por aparentar ser muito folgado, morando só e ficando nos bares até altas horas. Como não era aceito pelas pessoas do lugar, não freqüentava nenhuma reunião, social ou religiosa. Mas continuava sua vida de maneira decente, sem dar motivos a falatórios.

Ali naquela cidade também morava Ellem, uma moça também vinda de outra cidade grande. Ellem vinha sofrendo os mesmos preconceitos do nosso Fred, por ser solteira, por não ter família e por ter trabalhado numa casa de modas era vítima dos piores comentários das mulheres do lugar. E tinha um agravante: Ela não trabalhava. E como estava sempre bem vestida, e morava só, era um prato cheio para a fértil imaginação do povo.

Por coincidência, ambos uma noite se encontraram no único restaurante da cidade. Fred e Ellem se conheceram ali como bons amigos, somente. Ambos se abriram e contaram o que esperavam do futuro.

Passado um mês, sem ter o menor contato, Fred soube que Ellem havia morrido e que seu corpo estava na igreja da cidade. Indo até a igreja, Fred encontrou muitas pessoas na porta, e o corpo de Ellem estava sozinho.

Fred, então, virou-se para os moradores da cidade e disse: “Eu gostaria que as Sras e os Srs me dessem um pouco da atenção de vocês, pois sempre que morre alguém é normal dizermos algumas palavras sobre aquele que partiu. E como sei que vocês são tão puros que não teria ninguém para dizer algumas palavras a respeito da morta, e eu, que no dizer de vocês, sou a pessoa mais indicada para esta tarefa, por ser um perdido como ela”.

Então, Fred começou a falar:

“Vocês não sabem que Ellem veio para cá afim de se tratar de uma grave doença. Ela não tinha família e com o clima frio desta região, os médicos recomendaram que ela ficasse aqui por um bom tempo. Mas a sociedade “pura” e honesta daqui fez dela o pior julgamento. Será que vocês não sabem que quem pode julgar a nós todos é somente Deus? O que vocês aprendem vindo a igreja todos os dias? Desprezar seus irmãos, levantar calúnias e colocar barreiras a todos aqueles que aqui chegam? Eu estou triste por vocês. Tão egoístas. Tão orgulhosos, realmente mesquinhos a dizer "sou filho ou filha de Deus".

E não pensem que Ellem vai ser enterrada como indigente pois por acaso nós nos encontramos e ela me delegou poderes e recursos para seu funeral, pois sabia que a sua vida estava se apagando”.

Então o povo envergonhado e arrependido pediu licença para acompanhar o enterro que era feito por um carroção muito bem arrumado, puxado por dois cavalos e um cocheiro vestido a caráter, e por onde o cortejo passava, mais pessoas iam se juntando até o cemitério.

Laércio
Enviado por Laércio em 05/10/2008
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