“Passeio” Federal!

Minha “cara sem-sorte” estava excitada com o dia de sol que estava fazendo naquele dia e animou-se em conferir o motivo pelo qual a quantia lhe devida, pelo governo federal, ainda não fora depositada em sua conta bancária. Foi aí que o “passeio” começou pra mim! Foi logo propondo uma ida a uma cidade da região onde se situa a tal da Justiça Federal.

Acordei cedo naquele dia, fui pedalar minha bicicleta pelo bairro, coisa de quarentão que necessita de exercícios físicos pela manhã e odeia caminhar, quando voltei pra casa encontrei Suca já acordada, fui logo propondo uma ida à praia, pois o mar estava pra banhista naqueles dias. Maravilha! Deitado na areia relaxando, ouvindo pássaros cantando ao longe, o som do mar calmo, tudo de bom pra relaxar a alma de uma pessoa. Batendo papo com ela veio a lembrança do tal “passeio’ a ser realizado naquele dia... Pensei logo na motocicleta! Sol de primavera chamava um passeio de moto. É... Deveria ter pensado melhor!

Cheguei... Em casa dei uma lavadinha na moto, lubrifiquei a corrente, dei um trato nas carenagens, ela estava bonitinha e pronta para a estrada.

- Vamos passar no posto de gasolina, no banco para não sair duro pela estrada, tomar um café na padaria e pegar a estrada.

- Nossa você ainda está se vestindo!

- Eu dei um trato na moto – surpreendentemente ela se arrumou mais rápido do que eu naquele dia.

Logo que entrei na estrada senti os “presságios divinos”... Nossa soprava um vento nordeste forte! Havia me esquecido desse detalhe: o vento. Aquele vento era daqueles de dar canseira, seriam 50 km de puro vento contra, poeira na cara e tudo mais que fosse jogado na estrada pelos meus companheiros de viagem, sabe como é né? Aqueles que jogam cigarros pela janela do carro, latas de cerveja, era uma sexta feira, cusparada, todo tipo de lixo que nossos educados motoristas e seus acompanhantes atiram pelas janelas dos carros, tudo bem, era um passeio útil.

Confesso! Depois de 10 km daquele vento contra já queria voltar pra casa, mas quem iria gostar de decepcionar a esposa numa situação dessas? Fui até o fim, sem chorar, sem reclamar, sem falar também!

Depois de perder-me para encontrar o local correto, lá chegando, parei a moto e decretei:

- Me dá esse capacete e vai logo lá dentro ver isso que já fiquei de saco cheio dessa luta contra o vento.

- Calma... Calma!

- Vai logo lá, vou tomar uma água.

O único bar perto daquela repartição pública é de uma senhora de péssimo humor. Entrei e fui logo detectando um ar meio pesado no recinto. Voltei para a rua e decidi aguardar as novidades, pois eu ficaria ali na rua esperando Suca voltar... Mas nada dela aparecer para dar notícias. Fui dar uma xeretada para ver o que estava acontecendo e a encontrei sentada num banco com umas nove pessoas. Era isso mesmo... Uma maldita fila!

Pedi a ela, malandramente, para comprar uma água pra tomarmos enquanto esperávamos o atendimento, me livrando de aturar a dona esquisita daquele, único, bar. Como Suca não é de ter papas na língua elas se entenderam perfeitamente, embora reclamando que a água não estava gelada. Durante a água fui sabendo dos detalhes do tal processo.

Ela havia entrado sem advogado, já fazia três anos, ela já tinha ganho a causa contra a união, mas... De outra vinda ao posto de atendimento, me contou ela, o atendente já havia dado uma esculachada nela:

- O senhor poderia me informar sobre o porquê de o depósito não ter sido efetuado dentro do prazo?

- A qual instituição a senhora pertence? – olhando para o boleto emitido no terminal eletrônico da Justiça Federal.

- Ministério da Saúde.

- Então minha senhora... Somos todos incompetentes!

Pelo visto as agruras já se acumulavam. Ao voltar para a fila escutamos aqueles papos de fila, bem típicos. Um cidadão relatava sua última vinda ao posto, quando ficou 4,5 h esperando os advogados serem atendidos. Foi nesse momento que soubemos que os advogados podem furar a fila a vontade. Quem manda o cidadão não ter contratado um advogado também? Creio que deva ser um direito das pessoas se defenderem e não ter que dividir suas indenizações com tais profissionais. Que direito eles têm de serem atendidos antes das outras pessoas? Será que não estamos perdendo tempo de nossos afazeres profissionais enquanto estamos na fila? Sei lá!

Não agüentei e falei em voz alta:

- Nossa! Acho que está chegando, ali, um micro ônibus cheio de advogados! - Suca confessou-me que nesse momento teve vontade de dar uma gargalhada de puro nervosismo diante da possibilidade de ficar horas esperando o atendimento.

Em suma, realmente os advogados apareceram, ela ficou horas na fila só para descobrir que na última visita ao posto fora informada incorretamente e que só a partir daquela data a dívida iría para “despacho”, assim uma espécie de prêmio o tal “despacho”. Neste dia também soube que o atendente da vez anterior era um estagiário que substituía ocasionalmente o senhor que ali trabalhava, que tinha dado muitas informações incorretas, blá-bá-blá, bá-blá-bá, blá-blá-blá... Complicado isso né? Quem disse que essas justificativas são dadas pra acreditarmos nelas?

Agora pasmem! Quem era o atendente dessa vez? O tal senhor que disse que todas as Instituições Públicas Federais são incompetentes!

- A senhora deve voltar em janeiro de 2007 para verificar o andamento do processo. Lembre-se que deve ser na segunda quinzena de janeiro, pois não trabalhamos até dia 15.

É... E nós ainda queremos, talvez por teimosia, insistir em sermos bons Cidadãos Brasileiros.

Voltando para casa, pelo menos agora com o vento a favor, ela decidiu tomar uma “gelada”... Mas isso é outra estória.

A.Luiz Canelhas Jr. – 07/10/2006

luiz.canelhas@ymail.com

Saquarema - RJ