Pressentimento
Pressentia que iria acontecer um dia. Um pressentimento, não uma certeza. Se já não cabia em mim tanta alegria, se a vida me fora mais que amiga, irmã, mãe, conselheira; teria que vir. Por mais que ame e queira bem não passa a vida sem trazer na sua esteira a lição através da dor. E ela veio. Veio num momento da existência em que o arrebatamento e a alegria, o amor que eu sentia – minto. Ainda sinto – estavam em mim, tão à flor da pele, que doeu mais do que devia. Meu violão, num canto do quarto, fora da capa protetora, parecia pedir para eu cantar, ao menos. Sim!! Cantar. É isso. E naquele instante, de novo, percebi que a vida me dera antes, muito antes do mal, a cura. E cantei. Cantei com alma. E vi amigos que só verei além desses meus dias, a me sorrir com os olhos. Meu canto é vento soprando a vela do barco ruma à margem. Já não estou à deriva. A dor sumiu e eu entendi que não era dor. Era medo. Já não tenho mais medo. Eu canto. Já não sou meio bardo, sou bardo e meio.