O conceito equivocado que se tem de democracia
No Brasil, o período mais hilário corresponde aos meses que antecedem as eleições. E a medida que vai se aproximando o dia em que vamos exercer nossa cidadania, mais engraçado o país vai ficando. Em outros países, a exemplo dos EUA, o período eleitoral é um momento sério, tenso, incerto e cheio de mobilização (até o debate entre vice-presidentes é importante). Aqui é uma festa. A população se diverte com excentricidade de alguns candidatos – vide Leo Kret, Kid bengala, Cowboy Maluco Beleza, Robin e Hulk -, canta e ouve os jingles como se fossem sucessos das paradas. É o instante em que se troca o voto por blocos, bolsa-família, licitações.
E nesse processo de angariar tudo que se pode daqueles que pretendem voltar ao poder, eles próprios – os candidatos - estão se divertindo mais que todo mundo. Estão se divertindo porque mesmo que se tenha a plena convicção de que nada vai ser feito pela comunidade eles vão ter o voto. Pois, a maioria dos eleitores é apática e não faz a mínima questão de refletir sobre quem está votando.
O problema da apatia política dos brasileiros está no conceito equivocado que se tem de democracia. E essa deformação na consciência de cidadãos começa na medida em que o voto não é um direito e sim uma obrigação (iniciado com o Código Eleitoral de 1932). Por isso, dados identificam que 20% dos eleitores decidem em cima da hora em quem vão votar e uma parcela significativa não lembra em quem votou na última eleição. É um reflexo da “democracia” que é exercida no Brasil. E embora pareça invisível para a população, existe uma ligação inata entre o voto obrigatório e o autoritarismo político. Não por acaso, na América do sul – onde a maioria dos países instituiu a obrigação do voto – há uma trajetória de golpes de Estado. Em países onde a democracia realmente existe o voto é facultativo, como nos Estados Unidos, Áustria, Suíça, Alemanha, Japão, Espanha, Holanda, Canadá, Suécia. Há um perceptível dualismo entre subdesenvolvidos (voto obrigatório) X desenvolvidos (voto facultativo).
É aí que se percebe que o Brasil – como os outros países que passaram por um processo de colonização – possui um problema histórico na constituição da cidadania de seu povo. A escravidão e o sistema político-social que permeou o Brasil até o século XIX fez com que nós, brasileiros, fossemos fruto dessa relação entre dominante e subordinado e ajudou para a centralização - que existe até hoje - do poder em uma minoria. Fomos feitos cidadãos sem ter nossos direitos garantidos. E esse traço de um país feito de “vencidos e vencedores” extraiu do brasileiro o exercício de sua cidadania com maturidade política.