Judas e Madalena: os personagens.
Dentro da Bíblia, um livro religioso cheio de simbolismos, contradições e manipulado através dos séculos pelas religiões humanas, felizmente podemos encontrar o Novo Evangelho - embora também um tanto manipulado pelas religiões humanas - que nos oferece o relato da vida e das ações desse luminoso espírito superior que foi Jesus Cristo e que veio ao mundo não para nos salvar (pois cada qual se salva ou se perde a si mesmo por suas próprias ações), mas sim para nos mostrar um novo caminho para facilitar a nossa libertação da ignorância espiritual.
Dentro da história maior de Jesus Cristo que todo mundo - religioso, agnóstico ou ateu – conhece, as pequenas histórias de três dos seus apóstolos e seguidores me são muito fascinantes: Paulo de Tarso, o grande perseguidor, que veio a se tornar o melhor e o mais útil servidor da obra iniciada por Jesus; Judas, o grande injustiçado, e Madalena, a mulher que amou demais.
Mas, do ponto de vista literário – e eu sou um autor literário e não religioso – Judas e Madalena são personagens mais atraentes, pois permitem “n” discussões e/ou interpretações, sejam religiosas, políticas, sociais e, até mesmo, poéticas!
Pesquisadores, historiadores e até mesmo líderes religiosos isentos de fanatismo ou de hipocrisia, já admitem que Judas, longe de ser o Grande Traidor, foi vítima de um erro de julgamento sobre a missão de Jesus na Terra.
Judas era um israelita que odiava os romanos, os invasores de sua pátria. Dos apóstolos, era o revolucionário político; amava a Jesus, mas, antes da libertação das almas dos israelitas, preferia a libertação dos seus corpos. Vira Jesus andar sobre as águas, curar leprosos, cegos e aleijados, e percebera o poder imenso que aquele homem detinha. Não apreendendo o perfeito significado das palavras de Jesus, “O meu reino não é deste mundo”, Judas deve ter acreditado que ele, também como judeu que era, o ajudaria a libertar a Judéia do jugo dos invasores romanos.
Mas Jesus mostrava-se pacífico demais – pregar a paz e o amor entre os homens era a sua missão principal – e Judas, prático político, tramou a sua prisão. Jamais talvez teria passado pela cabeça de Judas que Jesus, que detinha todo aquele imenso poder, se entregaria docilmente aos romanos. Reagiria, com toda a certeza, e com Jesus à frente, a nação judaica expulsaria facilmente os romanos. A questão dos 30 dinheiros era só um detalhe para disfarçar as suas reais intenções junto aos venais sacerdotes do Templo.
Mas o sacrifício da própria vida em prol da perenidade de sua missão estava nos planos de Jesus e exatamente mais por isso que ela tem atravessado séculos e gerações. A imolação na cruz simbolizou e glorificou a missão de Jesus por todos os tempos; alguém ou algo teria que precipitar os acontecimentos que conduziriam a esse desfecho. E foi Judas, por seu fatal engano político, que foi o instrumento para isso!
Reconhecendo o seu equívoco e horrorizado por achar-se responsável pela morte do Mestre amado, suicidou-se, com os 30 dinheiros espalhados a seus pés! Não tinha gasto um só ceitil; não era o dinheiro que lhe interessava, mas sim forçar Jesus a liderar a revolução política que ele tramara!
Eis o grande injustiçado da história do Cristianismo; sem o seu erro, o Cristianismo não dominaria o mundo em 300 anos apenas!
Já Madalena que, segundo os pesquisadores, depois da morte de Jesus, tornou-se o maior exemplo feminino de divulgação e aplicação da ideologia do Cristianismo (superior mesmo à Maria, mãe de Jesus), não teria abandonado a sua vida dissoluta de cortesã e se convertido por amor à Obra, mas por amor a Jesus. Quem poderá duvidar que aquele homem cujo olhar devassava o íntimo das pessoas, que paralisava a fúria dos elementos e das pessoas, que arrebanhava multidões atrás de si, não despertava alucinadas e fulminantes paixões nas mulheres que o viam?
Jesus era um judeu de nascença, portanto, de rosto tipicamente judeu, inclusive nariz pronunciado e outras características da época. Talvez fosse um judeu bonito, mas não tinha esse rosto de características tipicamente européias, bonito como um galã da Globo como a Igreja Católica o pintou no decorrer dos séculos! Isso não é suposição minha, ao contrário, já está cientificamente comprovado.
Mas aquele resplandecente espírito detinha, é óbvio, um poderoso magnetismo pessoal e qual mulher, esse ser sempre apaixonado, romântico e sonhador, que resiste a isso? E Madalena, a bela cortesã, não ficaria imune aos encantos de Jesus! Apaixonada, renunciou à luxúria e à riqueza por amor a Jesus. Quando viu que jamais teria o seu amor físico, pois Jesus, espírito superior, trazia a mensagem do Amor Universal - o amor dos seres por todos os seres do Universo – sufocou no íntimo os seus anseios de correspondência amorosa e sublimou esse amor, amando-o em carne e em espírito, e seguindo-o como a sua serva mais dedicada e fervorosa.
Talvez por isso tenha sido a primeira a ver Jesus. O seu espírito, é claro.
E viu-o porque tinha olhos para ver. Olhos de mais-amor...