O MENINO E O LIVRO PROIBIDO
Coisa curiosa é ser menino; sensação gostosa é descobrir o proibido e sentir aquele medo inocente que algo terrível poderá acontecer se Deus souber por onde anda a gente – como se Deus não estivesse a todo instante presente – e mesmo sob a ameaça do castigo, ainda assim optar pelo perigo.
Ele tinha onze, nem era ainda uma pessoa; mas nunca ficava à toa, estava sempre de olho em novas descobertas, lia revistas, assistia novelas, queria entender o mundo dessa gente grande que vivia lhe dizendo o que fazer.
Nenhum segredo lhe escapava, ouvia por trás das paredes, das portas, bastava haver uma fresta e algo sendo sussurrado, para o menino estar ao lado, com ouvidos de cão e olhos de águia.
Quando o seu tio chegou de uma grande viagem ao sul, trouxe nas malas, muitas novidades; todos de sua casa, reunidos na mesa da sala de jantar, ouviram os “casos” do tio viajante, mas o menino curioso, estava vigilante, pois notara em uma das malas, um livro preto e uma revista que lhe instigaram a atenção. Esse tio, era o seu favorito, por isso, o menino achou que seria atendido, quando pediu para folhear a revista e ler o livro.
- Não posso, Neguinho! – respondeu o tio, chamando o nome, pelo qual o menino odiava ser chamado, mas era o tio, era o tio…
- Eu não conto a ninguém! – prometeu o menino.
- Nem pensar, se a sua mãe souber, ela me põe pra fora em um pensar. Além disso, esse livro é para gente grande, gente iniciada nas artes ocultas do mundo astral.
- Eu vejo escondido – o menino insistiu, mais curioso ainda – Por favor, deixa eu ver?
Deixô vê nada! Mas quem disse que o menino desistiria da sua empreitada…
Crianças são meio mágicas; feito bicho de conto de fadas, sempre descobrem um meio de atravessar portas e abrir malas trancadas. O menino conseguiu a chave da mala emprestada, enquanto o tio dormia. O bolso gentil cedeu as chaves, sem dizer nada; o menino agradeceu e voou para a mala e a abriu como se fosse um presente de natal; e viu em puro êxtase, o livro proibido de capa preta e a revista que revelou-se ser de mulher pelada.
Ali mesmo no quarto de visitas, o menino abriu primeiro a revista e a devorou como se comesse um pé-de-moleque. Era a primeira vez que via uma revista de gente nua. Nela, uma americana loira chamada Susan mostrava o seu corpo dourado e o menino sentia, um sei lá, em certas partes dos seus países baixos que o assustou, e por mais que fosse uma sensação boa; largou a revista, daria atenção a ela depois; precisava agora abrir aquele livro proibido a qualquer pessoa que não fosse “iniciada nas artes ocultas do mundo astral”; o que não era o caso do menino, nada oculto lhe escapava, nem mesmo aquele livro esquisito, que começou a lhe causar arrepio. O “Antigo Livro de São Cipriano” não trazia muita informação sobre o tal santo, mas havia uma série de receitas de magias, das mais variadas, tanto para o bem quanto para o mal; contudo, mas um pouco adiante, surgiu a segunda parte do livro, onde havia uma advertência em letras vermelhas e gritantes:
“ Caro neófito, não se atreva a ler as páginas seguintes. Se ousar decifrá-las, pagará o preço se a sua mente não tiver sido iniciada nas artes ocultas do mundo astral”
O menino respirou fundo, seu coração batia tum tum sem parar, o suor descia da testa feito água corrente e arrepios subiam e desciam pela sua coluna, mas ele não era covarde e avançou para as próximas páginas, onde São Cipriano contava a estória de um menino:
“Coisa curiosa é ser menino…” – dizia o livro.
O menino assustado, começou a perceber que a estória do garoto do livro era a sua estória, e antes que pudesse fechar o livro, leu ainda as seguintes palavras:
“ Leu ainda as seguintes palavras:
Para sempre, a alma do menino ficou aprisionada dentro da estória, mas a alma do menino não ficará sozinha, pois logo lhe fará companhia, todos que a lerem aqui e agora."
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