Cais abandonado

Nada mais triste para um antigo marinheiro do que um cais abandonado.

Afinal, o que é um cais?

É lugar seguro, onde navios atracam, sonhos aparecem sem pedir licença, veleiros estão atracados, lanchas que servem para distração e não faina severa. Em muitos deles, por incrível que pareça, alguns barcos a remo que servem de locomoção aos teimosos pescadores, sejam de linha de fundo, tarrafa ou anzol.

São sonhos. O homem do mar é, como o poeta, um eterno sonhador. Os mais aquinhoados, gostam de pensar em mares e portos distantes, aventuras que possam contar aos amigos e netos, tipo “quando eu estava no Tahiti” e vem uma longa história que envolve belezas naturais, mar translúcido e amores...

Quase sempre, para dar mais ênfase à historia, têm tempestades, ondas gigantescas, ventos de grande força! O que realmente importa é a aventura, a maneira de contar o sonho de todos nós.

Um navio grande, luxuoso, levando um simples mortal até um lugar bonito, às vezes paradisíaco é sonho de muitos. Uma viagem distante, dependendo do vento, das marés e correntes, leva aos velejadores prazeres imensos. Quase a maioria não fica nos sonhos; realiza suas viagens, ora calmas, ora tempestuosas. É a vida jorrando esplendorosa, agraciando aos seus admiradores. O sonho conduz à vida humana. Tolice não acreditar, é uma realidade.

O homem é assim. Vive de sonhos, e através deles consegue enfrentar a dureza da vida. O puro sonhador sucumbe, mas aquele que sabe se situar na realidade e no sonho tem vida cheia de riqueza.

Não importa se rico ou é pobre, o válido é o sonho.

Tantos conseguem realizar, tantos não têm a mesma sorte. Atravessar os mares, ganhar seu sustento com o que do mar colheu, é prazer indescritível.

Neste mundo de correrias e atropelos, o verdadeiro homem do mar fica triste quando vê um cais abandonado... Não tem mais noção certa do que é preparar sua refeição, e a dos outros que dela precisam.

Não vê o azul escuro do mar. Não se perde no translúcido do céu, infinito durante o dia e estrelado, embelezado, santificado durante a noite.

Um cais vazio é a solidão total, a falta de objetivos. Um cais vazio é a presença da morte espiritual...

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 03/10/2008
Reeditado em 04/10/2008
Código do texto: T1209266
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