A professora e a estrela-do-mar: uma parábola sobre o fazer diferente
Hoje acordei pensando em um conto que li há muito tempo, no qual dizia mais ou menos assim:
“Um jovem todos os dias caminhava à beira da praia, pegava as estrelas-do-mar que caíam na areia e as devolvia para o mar. Um dia, um escritor ao presenciar tal atitude perguntou por que ele fazia aquilo, dizendo-lhe que eram muitas as estrelas-do-mar perdidas e que seria grande perda de tempo pegá-las e devolvê-las ao mar.
O jovem, então, com ar sereno pegou uma linda estrela-do-mar em uma de suas mãos e disse ao escritor: ‘Sei que são muitas as estrelas perdidas, mas veja esta linda estrela em minhas mãos...’- e jogando-a ao mar, continuou – ‘Posso não fazer a diferença para todas, mas para esta eu acabei de fazer!’. O escritor olhou para o jovem e percebeu que muitas vezes podemos fazer a diferença apenas para alguns seres, e não para todo o Universo.”
Fiquei pensando em como essa parábola é verdadeira, já que muitas vezes nos preocupamos com inúmeras pessoas, infinitos afazeres e nos esquecemos de que no dia a dia, podemos fazer a diferença com pequenos gestos, pequenos atos e, algumas vezes, para um ser apenas. É assim que vejo o dom da escrita, a inspiração e inúmeras atitudes que nem sempre são percebidas, mas que acabam fazendo uma grande diferença.
Na minha profissão é frequente tal constatação, pois muitas vezes ao entrar em uma sala de aula vejo muitos alunos aparentemente desinteressados, que estão ali apenas porque o pai obriga ou porque necessitam de um certificado, e desconhecem a importância do conhecimento, do bom aprendizado. Antes de me sentir frustrada, tento imaginar que naquela praia pode haver alguma estrela-do-mar perdida e que se eu puder fazer a diferença me sentirei feliz e realizada.
É claro que isso nem sempre acontece, pois ao tentar pegá-las, elas podem escapar das minhas mãos. Entretanto, quando consigo pegar uma, sinto um enorme prazer, uma emoção indescritível que toca profundamente a minha alma e que somente quem realiza o seu trabalho com o coração é capaz de entender tal sentimento.
O trabalho de professor é assim, pois vejo que podemos fazer a diferença para algumas estrelas-do-mar e que por meio de atitudes simples, conseguimos despertar o interesse de alguns alunos para a leitura e para a escrita.
Caro leitor, você não imagina a satisfação que é para um professor de Literatura observar tal acontecimento, já que muitos dos nossos jovens são vistos como seres desinteressados pela leitura, e, infelizmente, sou obrigada a concordar com essa colocação.
É muito gratificante ver que alguém se interessou por contos que foram postados em um site, um blog, mesmo não sendo os meus, mas que foram lidos e ficarão guardados no inconsciente daquele jovem leitor que, aos poucos, está sendo despertado para a maior fortuna deixada por nosso Pai: o aprendizado e o conhecimento!
Então, é nesse momento que penso que não importa se não fiz a diferença para todas as estrelas-do-mar daquela praia, mas se fiz a diferença para uma, posso considerar que a minha missão naquela praia foi cumprida, servindo assim, de estímulo para que eu possa entrar numa nova praia e tentar fazer novamente a diferença para quantas estrelas estiverem prontas para serem lançadas de volta ao mar.