Céu em chamas
Vi, por detrás do vidro imundo, através da janela de um ônibus público, o ciano se consumir em laranja e as nuvens se transformarem em cinzas. O céu estava em chamas e ninguém viu. Olhei ao redor e encontrei apenas homens débeis, discutindo qualquer coisa, levando sobre os ombros suas vidas mesquinhas.
Vejam, almas desgraçadas, o véu azul tornar-se negro! Fujam desse cárcere frio, contemplem o fervor que a noite nos traz. Olhem, com esses olhos opacos, o horizonte distante ardendo em fúria.
Deixei todos eles. Segui para minha casa, mas o rastro rubro, que o sol adormecido deixara sobre as montanhas escuras, ainda me fascinava. Antes de adentrar meu lar, parei e observei mais uma vez: pássaros e insetos agitavam-se no ar. O sol fora embora, mas nos deixara seu calor.