Desespero, vida agitada ou nos perdemos?

Os cientistas alertam sobre os desastres climáticos que nos esperam no futuro não muito distante, no Atlântico Sul tivemos o primeiro furacão em março de 2004, fenômeno acreditado impossível, uma seca bem singular na Amazônia... Seria tudo isso absolutamente normal? Os cientistas estão totalmente errados? O relatório da ONU é pura besteira? Acredito que coisas estão mudando e infelizmente não somos nós que evoluímos, os tão poderosos seres humanos.

A velocidade é boa coisa para esses seres tão poderosos? Uma pessoa “humilde” ganha algo com essa agitação toda? Estamos sendo sugados, drenados, despojados da dignidade básica, estão nos levando para o tumulo alimentados com falsas promessas.

É muito bom mesmo viver fora das grandes cidades, ouvir o som dos pássaros, o barulho do mar ao longe, degustar o silêncio durante o dia... Sentir o odor da chuva, da folhagem na mata... Viver com calma! Fiquei estarrecido com o que senti quando desci do ônibus e entrei no fluxo nervoso do Centro do Rio de Janeiro. Uma experiência transcendental posso assim dizer.

Os sentidos entraram em alerta, nariz reclamando, os olhos trabalhando em “full scan”, ouvidos sendo agredidos até entrar em modo seletivo. Esgoto vazando pela rua, a pobreza humana misturada com “belos ternos” e dispendiosos automóveis, a insensibilidade humana brotando por todo canto... Uma percepção ficou indefinida em minha mente, incomodando. A sensação de todos só estarem ali naquele pedaço de terra, chamado Centro da Cidade, apenas por dinheiro já estava configurada. Algo estava escapando...

Andei trabalhando com meus alunos o tema Aquecimento Global, montamos várias apresentações sobre os desdobramentos climáticos, eventos percebidos pelos cientistas como sinais de alerta, como cada humano pode e deve contribuir na tentativa de solucionar o problema. Quando o quadro que assistia se uniu a estas lembranças fiquei desalentado por horas. Como reverter um quadro como aquele? A ganância já havia se apoderado daquelas almas, o pior é que estão alimentando a riqueza e “prosperidade” de outros seres, a maioria jamais irá conviver com os detentores da abundância que é gerada pelo sistema. Muitos dirão que eles estão vivendo a vida, mas isso é vida?

A pessoa que me acompanhava teve a idéia de comer num lugar “Chique”, para não citar o nome do estabelecimento, minha sorte foi o celular tocar, enquanto ela atendia tive alguns segundos para observar o local. Uma jovem senhora em seu traje elegante, um pretinho básico, degustava seus doces como uma verdadeira aristocrata, a postura das mãos, a maneira de sentar, seria dispensável o ar condicionado tamanha a “frescura” que emanava daquele recinto. Quando a ligação telefônica acabou eu já havia me decidido, queria sair, necessitava de ar... Nem isso tinha, voltaria para aquelas ruas!

A fome ainda não dissipada se fazia presente, surgindo à idéia brilhante: Ir à tão falada casa tradicional Americana de “fast food”. Quando entrei no átrio do estabelecimento, parecia o pedágio da ponte Rio-Niteroi, estanquei por um segundo e fui amarelando.

– Pode ir, vai lá que eu espero lá fora, isto aqui está lotado não vai ter como sequer sentar-me com você para lhe acompanhar.

– Você está virando um bichinho do mato mesmo.

Ainda fiquei ali esperando por uns instantes, foi quando notei que realmente as pessoas estavam sentadas a mesa com desconhecidos. Nisso surge uma senhora com uns cabelos diferentes, não tinha como dizer que não era uma peruca. Acompanhei a figura com os olhos, tentando achar um lugar privado para sentar-se, impossível naquele horário, resignadamente indo sentar-se numa “vaga” recém aberta. A sua frente agora, quando “escolheu” o acento a pessoa estava de costas, assisti o reverso do que acontecera na casa “chique”, uma gordinha comia com voracidade... Ainda bem que o barulho me impedia de ouvir seus ruídos ao comer.

– Pô! Nem tanto ao Ceu nem tanto a Terra.

Quando a pessoa voltou com sua bandeja tentei acompanhá-la, mas o mesmo problema que a senhora de peruca teve, minha acompanhante também experimentou, obrigada a sentar-se junto a estranhos. Pedi licença e sai daquele lugar, indo colocar-me do outro lado da rua, apenas observando as pessoas em seu frenesi alimentar. Fiquei assombrado com a quantidade de papel que aquele lugar consumia a quantidade de lixo gerada pelo sistema de comida rápida, a cultura dos descartáveis em plena ação.

Estava me sentido mal! Fumaça de óleo diesel, fome, barulho, pessoas com semblantes adulterados... Sabe-se lá que pensamentos estavam gravitando naquelas mentes? Queria ir embora, chegar em casa, fugir daquele lugar.

Comprei um saquinho de biscoitos de arroz com algas marinhas e fui para as barcas. Entrei no lugar errado e fui parar nos aero-barcos, queria ir de barca, curtindo um vento na cara, comer meu biscoito tomando um refrigerante. Fui parar num barco fechado cheirando a combustível, o bom que é que foi uma intoxicação de curto período.

Tive sorte! Chegando ao terminal rodoviário tinha um ônibus saindo. Foi sair daquela confusão e pegar a estrada já comecei a sentir-me melhor, mas só no dia seguinte a experiência se completaria.

Depois de ir à feira, atendendo ao pedido de minha mãe, fui até a igreja, calma com as conclusões, ela foi lá dentro, eu fui me sentar num bando que existe na parte externa ficando a observar a paisagem. Ali, com o espetáculo da natureza a minha frente, o oceano, a lagoa, as montanhas, uma visão magnífica, juntei os pedaços...

– Não acho que devemos salvar o planeta, antes de qualquer coisa temos que salvar almas. A maioria só irá se sensibilizar quando o caos se abater sobre eles, não irão abrir mão do que chamam de “viver suas vidas”, até as religiões estão comprometidas com a economia globalizada. É como disse um especialista no assunto: “temos que garantir a educação dos que estão nascendo, criando novos hábitos, preparando-os para uma vida mais eficiente, nós já estamos corrompidos pelo sistema.”

Acho que a pessoa que estava a meu lado não gostou muito de minhas conclusões... Nada de estranho para os adestrados por tão tirânico sistema econômico. Como disse Chico Buarque: “Quem é que estava no volante do planeta que meu continente capotou? Me diz... Me diz... Me explica por favor...”

A. Luiz Canelhas Jr. – 19/08/2007 - lucan258saqua@yahoo.com.br - Saquarema - RJ