Homenagem Póstuma!?!

Eu até que presto atenção no que os “Homens Eleitos” dizem e fazem país afora, mas não sou dado a discussões políticas. Nestes dias de hoje temos que ficar atentos às ofertas que aparecem... Bem, fui convidado a fazer parte de um evento político! Este convite me deixou com a pulga atrás da orelha, dando uma tremenda irritação cutânea. Achei mesmo poder se tratar de algum tipo de armadilha da vida, um cara cheio de opiniões contrárias aos “poderosos” aparecer em local público, arriscado a ter um acesso de sinceridade e sair gritando palavras de ordem, pondo tudo a perder. Fiquei num misto de dúvida e curiosidade, afinal nunca participei de coisas deste tipo.

Quem sai de casa em dia de chuva corre o risco de ficar molhado... Ainda mais com essas mudanças climáticas. Até dentro de casa podemos ficar molhados! Chuvas de granizo com ventos assustadores, são de apavorar qualquer morador do Rio de Janeiro. A última que passou por aqui destruiu parte do telhado de minha casa... Então tentei me preparar para as eventualidades, acho que se tivesse um terno iria todo engravatado ao evento. Aquele papo de que “de gravata eles respeitam”, mas como aqui só advogados usam essa indumentária fiquei com medo de ser confundido com um. Quem gosta de necessitar dos serviços deles? Então coloquei o usual mesmo, aquela roupinha básica, jeans e camisa pólo.

Começou a chegar gente às pencas no local. Fiquei pensando se deveria reconhecer aquela gente toda, afinal eram cidadãos do município e colegas de profissão. Não conhecia quase ninguém, dava para contar os conhecidos com apenas uma das mãos. Aqui cabe dizer, acho eu, que fiquei tranqüilo em relação a minha vestimenta, até a autoridade máxima estava bem à vontade para a ocasião, talvez eu quisesse que nós, professores, fossemos merecedores de mais “pompa” quando homenageados. Que viajem hein!

Alguns até poderiam dizer que para corno, e professores, todo castigo é pouco! Ficar horas em pé, como nos dias de quartel, esperando para receber as tais homenagens.

Depois de cantarmos os hinos necessários, passamos a ouvir poesias de gosto duvidoso, uma menina cantando música “gospel”, bela voz tem a danadinha, mas... O que será que os católicos acharam? Assistir um esquete em que a professora, no final, aprova os alunos indiscriminadamente, até mesmo aqueles que não aprenderam absolutamente nada. Duro mesmo foi ver que aplaudiram com entusiasmo o trágico final. Será mesmo que aquelas almas trabalham na educação? Como me pareceu, fui o único que não aplaudiu! Assim sendo tive que ficar quieto. Cheio de teias de aranha na boca... Aquele era um ambiente desconhecido pra mim.

Foi então que o locutor oficial anunciou que seriam entregues os “diplomas”.

- Senhor fulano irá passar o diploma as mãos de beltrano.

Nossa! Fiquei pálido com o volume de diplomas que o ajudante estava segurando. Comecei a ter dores na coluna vertebral... Sentir sede... Coceiras... Aquelas figuras desfilando a minha frente e posando para as fotos. Dá pra imaginar isso?

Quando o maço de diplomas acabou fiquei aliviado e querendo saber onde estava o “ponto”. Queria assinar para não dizerem que não estive presente, pelo menos isso... Coisa de funcionário público, eu sei.

Foi então que apareceram uns diplomas feitos em canudos.

- Isso não vai mais ter fim? – deixei escapulir em voz alta. Olhei rapidamente pra sentir se alguém se dera conta do que falei. Pode ser até que alguns estivessem concordando comigo. Sabe como é, né? Querem logo ir aos comes e bebes!

Então veio a surpresa máxima... Chamaram meu nome, assim pensei a priori. Tive que fazer aquela cena como todos... Lembrei do desenho “Peanut`s”, onde um dia o pianista, que só tocava clássico, topou tocar em um festival Rock: Eu me vendi... aiiiii... Eu me vendi...

Não sei até hoje como não falei tão logo percebi o fato. O nome que foi chamado e que está escrito no diploma é quase idêntico ao meu, a não ser por um detalhe: eu sou o Junior da família.

Dispensei “tomar café com o prefeito”, até porque, no mínimo, não serviriam o cafezinho que eu esperava àquela hora do dia. Já indo embora, me dei conta que aquilo havia sido, isso sim, uma homenagem póstuma. Um dia desses vou ao Rio colocar no túmulo de papai o seu diploma. Nem ele esperava tanto reconhecimento!

A. Luiz Canelhas Jr. – 16/10/2006

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Saquarema - RJ