A mesma rotina 2 vezes por semana.
Esteiras uma ao lado da outra. E lá está ele o Deus grego.
Suado, camiseta colada ao corpo (deve estar vindo de uma
corrida pela areia).  Academia 2 quarteirões da praia.

Já não é rapaz, deve beirar os quarenta e poucos anos, mas
exibe um corpo musculoso e bronzeado pelo sol de Ipanema
ou mesmo da Barra onde deve morar. Será que mora aqui?

E lá estou eu embevecida, pelo corpo, pelo porte, pela indi-
ferença de um só olhar pra mim.  Na verdade nunca trocamos
palavras, a não ser o simples oi aquele costumeiro que damos
até para quem não conhecemos.

De todas as pessoas que nunca me olharam, ele é o que melhor
nunca me olhou.
Mas fica do meu lado na esteira suando, e o espelho em frente
evidencia a indiferença profunda dele por mim.

E ai reside a diferença dele para os outros que não tiram os olhos
de mim.  Sequer uma vez pousou os olhos em minha direção.

Seu olhar flutua e, enquanto corre na esteira fica em transe com 
seus pensamentos num estado total de Nirvana.  O fato é que
aquele pescoço bronzeado e másculo não vira  90 graus pra
mim.

Percebi que usa uma grossa aliança na mão esquerda.
Então é casado. Um espécime raro em extinção.  É fiel.

Ah!! que homem de força hercúlea que me intriga e instiga.

Qualquer dia desses assumo ares de femme fatale e peço
autógrafo àquele Deus Grego, ou....mudo de horário ou  de
esteira.

Quem sabe do outro lado exista uma esteira e um outro
sarado  homem que olhe para mim.

ysabella
Enviado por ysabella em 02/10/2008
Código do texto: T1208188
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