Pensando filosoficamente

O pai, observando a atuação de um guarda de trânsito, comenta com o filho:

- Eu não entendo para que esse guarda fica mandando a gente parar no sinal exatamente quando o sinal está vermelho e seguir justamente no momento em que ele fica verde. Se é para fazer exatamente o que o semáforo está indicando, a presença dele aí é inútil. E na maioria dos dias, nesse horário, tem um guarda aí fazendo isso. Só lá uma vez ou outra é que eles orientam o trânsito em desacordo com a orientação do semáforo. Será que ele não se dá conta do papel ridículo que está desempenhando?

A criança, naquele momento, nada disse. Mas em casa, após o jantar, aborda o pai e observa:

- Pai, estive pensando sobre aquele guarda de trânsito cuja atitude o senhor criticou. Não querendo acreditar que um guarda de trânsito pudesse se prestar àquela função inútil que o senhor lhe estava atribuindo, pensei sobre a questão e conclui que ele estava fazendo exatamente o que deveria estar fazendo, e que se eu ou você estivéssemos no seu lugar agiríamos da mesma forma.

Surpreso pela abordagem o pai, incrédulo, pede então que o menino explique-lhe a atitude do guarda.

- Bem, se ele não está ali em qualquer hora do dia mas apenas naquele horário, que é um horário de trânsito intenso, é porque a Companhia de Trânsito entende que a qualquer momento pode ser necessária a intervenção do guarda, certo? Imagine então se ele ficasse ali, sem ser notado, e só atuasse quando sua ação fosse necessária. Será que se um guarda de cuja presença nenhum motorista está se dando conta mandar que um carro pare de repente com o semáforo no sinal verde, ele não teria enorme chance de provocar uma batida, ou até um engavetamento de vários carros? Pois é por isso que o guarda fica ali fazendo um papel que ao nosso primeiro olhar pode parecer inútil. É como se ele estivesse a nos alertar: “ Atenção, quem manda aqui agora não é o semáforo, mas sim eu, e a qualquer momento eu posso discordar da orientação que ele está dando, e quero ser obedecido de imediato.” Ou seja, ele só fica ali, gesticulando e apitando sem parar, para que mesmo à distancia os motoristas se dêem conta de que há um guarda mais à frente, e todos devem dirigir atentos a uma possível intervenção sua.