Desabafo de uma Professora Diante do Caos Educacional no Brasil
Acabo de sair de uma sala de aula de escola pública estadual. Lá dentro tudo está quebrado, pixado e covardemente destruído. Acabei de ver um dos alunos mostrando aquilo duro para uma colega de classe. Vi também alunos destruindo uma maçaneta na sala de aula com o cesto de lixo feito de madeira.
Na aula, tive que fazer como os professores de escolas públicas geralmente fazem: "entopem" o quadro de matéria para ver se escrevendo, eles se calam um pouco. Mas, que nada! A presença do professor não faz diferença ali.
Fui professora substituta de Língua Portuguesa de dois terceiros anos do Ensino Médio. Sou professora da rede particular de ensino, onde os alunos estão preocupados em aprender pois têm um objetivo claro na vida: o vestibular. Já aos alunos de escola pública resta a esperança de formarem-se no Ensino Médio para começarem a trabalhar e nunca mais sentarem-se à uma carteira escolar. São condenados pelos próprios professores que defendem fortemente a idéia de que poucos ali prestarão o tal do vestibular e, portanto, não há necessidade de se falar nisso com tanta insistência. Mas diga-me, meu amigo leitor, se o professor não incentivar seus alunos a almejarem um futuro melhor, uma formação superior, quando, então, mudaremos essa brutal realidade no nosso país?
Isso é, sim, o desabafo de uma professora inconformada. Inconformada com esse sistema falido da educação brasileira. E os filhos desse sistema criarão outros filhos que crescerão inseridos em uma realidade que não valoriza e não prioriza a educação porque não foi ensinada a fazê-lo. Onde pararemos?
Acabo de ver uma escola que não forma pessoas. Forma, sim, escravos de um sistema burro e falido. Geração coca-cola, filha do sistema que cospe todo lixo de volta em cima daqueles que criaram essa situação. E não cospe com senso crítico e com intenções de mudança, mas com a cegueira de uma gente escravizada intelecualmente. E tente convencê-los de que estão errados! Estão tão cegamente bitolados e conformados com a condição desumana em que vivem que você escutará um belo "VTNC, dona!" como eu já escutei. Sim, eles lhe olharão com olhar de quem quer lhe bater e lhe ver longe dali.
Onde chegamos com esses filhos do sistema? E o professor também tem a sua parcela de culpa. Desatualizado e desmotivado, pede coisas ridículas aos alunos como atividade extra ou trabalho de recuperação paralela. Ignorância plena de certos profissionais que acham que repetir todo ano a mesma aula como um papagaio velho vai adiantar alguma coisa. A geração é outra. Precisa de atividade inteligente.
Coitados dos filhos dessa revolução burra, dessa conquista besta de liberdade que o povo pensa que tem. Eles têm que copiar os exercícios no caderno. Exercícios que estão no livro didático. Pra que copiar o enunciado se ele já está no livro? Quando o aluno termina de copiar o enorme enunciado, está cansado demais pra pensar na resposta. Ignorância!
São esses os formadores de opinião? Ou formadores de gente sem perspectiva e sem objetivo na vida? Onde chegaremos? Ou melhor: Onde chegamos? Nas mãos de quem ficarão os nossos filhos e netos? Sistema falido!
E enquanto isso, os candidatos à prefeitura (eleição em voga no momento) brigam pelo poder com candidaturas infelizes e sem conteúdo baseadas em versões baratas de músicas do Zezé di Carmago ou de Ivete. E o povo vota! Vota, sim, nesses incompetentes que não têm capacidade de administrar a própria vida. E vai assim falindo ainda mais o que já estava falido até que apareça alguém que compre o país e faça do nosso povo ainda mais escravo intelectual.
Solução? Não a tenho, mas sei que colheremos se plantarmos. Sei que veremos os resultado se educarmos. Vai demorar, mas veremos!
Precisamos ensinar o pobre a ser rico. Se ele fosse rico com os pensamentos que tem agora, certamente destruiria tudo o que tinha. E sabe por quê? Porque são filhos dessa injustiça e desse caos social. Poucos são os que se levantam com alguma opinião sobre o que acontece ao seu redor.
E não venha me dizer que a culpa é somente da escola e dos professores. Sim, temos parcela de culpa nisso tudo. Mas o povo tem sua parcela de culpa também. Pais que não respeitam filhos, filhos que não respeitam pais. Netos que não respeitam avós. Filho que planeja o assassinato dos pais. Geração que não se respeita, tenho certeza que eu não sou daqui!
Poder na mão de poucos que fazem questão de não consientizar o povo do seu papel de cidadania e do poder que tem na hora de votar nessa pseudo-democracia chamada Brasil.
Para mim, a grande revolução está em uma palavra: conscientização. Se o povo for alertado e consientizado do seu papel crucial de cidadania... Se a ele for dada a oportunidade de contruir uma sociedade ética, mais justa... Se a ele for mostrado que o valor às pequenas coisas faz parte de uma sociedade equilibrada, que a tomada de posição firme diante das situações da vida faz parte de um viver digno... Se mostrássemos que cada um desenvolve papel de suma importância na sociedade, que todos precisam de todos, que precisamos amar as pessoas...
Sim, amor! Amor ao próximo, amor às coisas conquistadas ainda que poucas e pequenas, amor à escola que é nossa, amor ao país que também é nosso, à bandeira que o representa tão belamente, amor ao lápis com o qual escrevo, respeito ao meu caderno que calado recebe a minha opinião e o meu sentimento.
Sim, amor! E respeito. Respeito às pessoas, ao professor que ensina, ao gari que limpa, aos animais de rua, aos alunos e colegas da nossa escola, ao vereador eleito por nós, ao nosso vizinho de rua, de porteira, seja lá do que for.
São esses os valores que constróem uma sociedade digna da qual nos orgulharemos um dia. E, sim, eu insistirei nisso, pois sei que a persuasão e a insistência ainda nos darão a vitória. Não desistamos da vida, nem do amor. Pois fugir pra Pasárgada não mudará a nossa realidade.