Escreva sem medo: a língua é sua
Edson Gonçalves Ferreira
Sou professor de Português, há décadas e, às vezes, fico irritado com tantos erros cometidos por profissionais da área educacional que, por exemplo, escrevem "açesoria". Um dia, fiquei tão danado da vida que, ao receber um envelope, vendo o erro, falei que não havia esse setor onde eu trabalho. A pessoa perguntou-me se eu não era assessor. Respondi que era sim, mas com quatro "s" e, então, ela comprou outro envelope e no-lo entregou.
Sim, fui uma das poucas vezes em minha vida em que fiquei irritado e, quando leio documentos que usam o pronome de tratamento e colocam o pronome possessivo da segunda pessoa, também, sinto-me desconfortável. Gentilmente, reescrevo, quando é possível, explicando que os pronomes de tratamento pedem o uso da terceira pessoa e não da segunda.
Procuro fazer as correções sem ferir as pessoas, porque, se usarmos, descontroladamente, a caneta vermelha em cima de todos os textos, podemos castrar um(a) escritor(a). Não é de bom tom que você ou eu corrijamos uma pessoa, publicamente. Em sala-de-aula, sempre tive o cuidado de não constranger os meus alunos, futuros escritores.
Antes que você diga que nem todo mundo é escritor, justifico que todo mundo é escritor sim. Às vezes, não chega ao ápice da escrita literária e não se consagra como artista. No entanto, trata-se de uma pessoa que vai, durante toda a sua vida, utilizar a língua como ferramenta e, para tanto, precisa conhecer a Norma Culta.
Essa aquisição se dá gradualmente, de acordo com a quantidade e qualidade de leitura, na proporção do quanto ela se exercita escrevendo. Afinal, falar, ouvir, escrever e ler são etapas seqüênciais e, portanto, precisamos respeitar a escrita do outro, mesmo que ela contenha desvios da norma culta. Do contrário, poderemos inibir um(a) futuro(a) escritor(a), não concordam?
Divinópolis, 01.10.08