O "pestinha"
Meu sobrinho não pára de falar, parece motorizado e não dá sossego. O tempo todo instiga atenção e quer que eu brinque de carrinho ou outra bobagem qualquer. E eu, eu quero descansar, quero pensar nos meus textos, de preferência, sem muito barulho. Impossível:
- Tio, vamos brincar?
- Não posso, Tiaguinho. Preciso trabalhar.
- Ah, tio, vamos brincar...
- Amanhã. Amanhã brinco de carrinho com você.
Dá-me um pouco de paz e vai ao pai que está esticado no sofá vendo o Jornal Nacional. Só escuto o berro:
- Fica quieto, Tiago. Deixe eu escutar, caramba. Vai lá com o Tio, vai.
Comigo, nada. Quero distância de moleque travesso. Se pelo menos eu pudesse lhe aplicar alguns beliscões ou mesmo caretas terríveis.
O pai, novamente:
- Fica quieto!
- Pai, hoje já é amanhã?
- Já. Deixa eu assistir...
E lá vem ele, o Tiaguinho, feito bala:
- Tio, vamos brincar de carrinho?
- Já falei, Tiago: só amanhã.
- O pai falou que hoje já é amanhã. "Shenta" aqui, Tio...