Encantada
Disse Guimarães Rosa que quando uma pessoa morre ela se encanta. Uma forma poética de ver a Vida e a Morte, o bem e o mal, preocupações do nosso fecundo e admirável escritor.
Mas esta não é uma história de morte; ao contrário. Trata-se de uma louvação à Vida, um agradecimento aos céus.
Diz o povo que nada acontece ao acaso. Dizem os ilustrados a mesma coisa.
O fato é que estes novos Romeu e Julieta se encontram por acaso. Este acaso, segundo o que já foi dito antes, parece estar escrito em todos os cantos. Na areia, onde o mar pode apagar, mas ele se projeta no céu, entre as estrelas, e de lá não pode sumir mais. É parte do firmamento, do universo grandioso e belo...
Quando aconteceu, foi um amor intenso, almas confundiram-se, sentimentos ficaram entrelaçados. Paixão verdadeira, paixão encantada.
Romeu, digamos que este seja o nome mesmo, duvidou da sua Julieta. Belíssima, angelical figura que carregava e ainda leva uma bagagem espiritual grande, rica, sadia, forte.
“É demais para mim”, pensou. E assim passaram-se anos. Poucas vezes se encontraram. Sempre que isto acontecia, ele era chamado medroso, por não assumir a situação confusa. Ele tinha medo sim. Muito medo.
Certas situações colocam o mais valente com o rabo entre as pernas, lembrando Machado.
Era exatamente assim que ele se encontrava. Parecia ter sido tomado por uma síndrome malsã toda vez que via a bela princesa. As palavras não fluíam, o sentimento estava sendo massacrado pela razão.
Longo tempo passou. Escondida no seu ser, ela estava viva, muito fortemente viva. Mas ele mantinha a sua posição. Primeiro a voz do pensamento, depois a do amor.
Um erro lastimável, um erro de muitos, um erro de quem tem medo de amar!
Súbito, leva um susto. A sua Bela faz uma declaração direta. O coração de Romeu é tomado pela alegria. Ele sabe que é amado! Fica confuso, mas as palavras são reais. Ela confessa seu amor, e diz esperar ouvir que a distância maltrata, que aguarda ainda, ansiosa, ouvir um “eu te amo”.
Quando ouve, cai o pano. Não há mortes. Apenas – apenas?, um esperar sufocante.
Encantada! A espera do final, só os deuses sabem...