FAÇAM SUAS APOSTAS...
Em matemática não há milagres; 1+1 será 2 desde quando o mundo é mundo e assim será até o ultimo dia dele; bolsa de valores é diferente de matemática, existem empresas que se consideram mais capazes do que outras (privadas ou públicas), que inventam uns papéis chamado de “ações”, onde em tese, qualquer um pode adquiri-los, para também em tese, se tornarem sócios daquela companhia. Quem compra ações na bolsa de valores de qualquer lugar, nem sempre (ou quase nunca), deseja apenas “serem sócios”, os negociantes de ações, na verdade, surfam nas ondas financeiras, vislumbrando o lucro grande e imediato.
Os papéis disponíveis (ações) são promessas de lucro futuro; gente que compra e vende estes papéis sabem que tais lucros podem ocorrer ou não, tudo depende de uma série de normativas administrativas envolvendo o mercado atual e daí é que alguns ganham muito e muitos cometem suicídio após esta ou aquela crise financeira.
O que está ocorrendo agora e que promete ser uma das maiores dores de cabeça contemporânea envolve, como sempre, os Estados Unidos da América e uma série de grandes empresas, geralmente bancos, que apostaram na lucratividade fácil do crescimento da economia mundial. Centenas de fomentadores financeiros dos Estados Unidos apostaram alto numa mesa de cassino onde o risco de perder era pequeno e o resultado foi que milhares de investidores seguiram estes apostadores compulsivos e agora, quebraram, por enquanto, os membros; corre-se o risco ainda desta gente dar paradas cardíacas ainda este mês e a situação se tornar ainda mais grave, inclusive para o Brasil.
Grandes bancos americanos apostaram há cerca de dois anos no crescimento da economia interna dos Estados Unidos; criaram uma facilidade enorme para que os estadunidenses pudessem comprar todo tipo de imóveis de forma facilitada e de fato isso ocorreu; nunca na história daquele país foram vendidos tantos imóveis em tão pouco tempo; teve gente comprando casa de praia em Malibu, gente de Malibu comprando mansão em Beverlly Hills, gente que nunca teve casa comprando apartamento em Manhhatan e assim por diante, tudo isso parcelado em “trocentas” vezes, sem entrada e com juros, que para nós, são baixinhos.
Acontece que os bancos que financiaram tais investimentos, possuem transações em inúmeros lugares, inclusive no Brasil e na hora que deveriam começar a receber as parcelas dos empréstimos, ninguém tinha dinheiro para pagar. O avião da economia dos Estados Unidos estava aparentando dar um baque em pleno vôo e quem tinha dinheiro para pagar, preferiu segurar, daí, como a Lei é rígida por lá, quem comprou imóvel e não pagou, começou a entregá-lo aos credores; estes por sua vez, começaram a ficar sem caixa e não pagar suas obrigações com os grandes bancos; já os grandes bancos, frearam seus investimentos e apostas no mercado internacional e o mercado internacional por sua vez, mostrou que são vulnerável as crises e fraco diante das circunstâncias alheias.
Começava então uma corrida desesperada por mais dinheiro, afinal de contas, quando falta dinheiro, somente com dinheiro se resolve o problema e o mundo não tem tanto dinheiro assim disponível; quando isso ocorre, as empresas e os bancos recorrem ao Governo e este, possui pequena alçada para garantir operações de risco, ele precisa de autorização do Congresso, que negou e pôs a escaler a pique.
Desta salada mista, o dólar no Brasil passou em duas semanas de 1,64 para 2,06; bom para quem exporta e péssimo ara quem vive de importações; quem exporta pode até estar aliviado, mas dificilmente quem compra estas importações queiram arriscar neste momento; quem importa deve estar chorando e o resultado é uma desaceleração generalizada da economia; ruim para todos, inclusive o Brasil.
A Bolsa de Valores de São Paulo, maior da América Latina em volume de negociação, ativou duas vezes seu dispositivo de SOCORRO, no intuito de tentar frear crise, mas de nada adiantou, ela fechou o dia de hoje com perdas cumulativas de mais de 27% ao ano, ou seja, quem investiu R$ 1 milhão, hoje tem apenas R$ 730 mil. Com esta fórmula, nenhum empresário irá querer investir neste momento, por mais bonzinho e bem intencionado que ele seja. No clube dos grandes investidores o lema é “empatar talvez, perder, jamais”.
Grandes conglomerados brasileiros ligados ao mercado internacional já puseram suas equipes de bombeiros para agir rápido; gente como o espanhol Santander e o HSBC, que movimentam uma fortuna diariamente em negócios nas bolsas de valores, estão desesperados; Sadia e Aracruz Celulose já anunciaram perdas de mais de R$ 700 milhões por causa de apostas desastrosas no mercado internacional, cerca de 0,05% do que os bancos americanos pediram ao Governo Bush para tentarem se reerguer, e a bola de fezes, prometem ser ainda maior do que o anunciado.
Mas o que isso tem a ver com o Brasil? Muita coisa, afirma grandes nomes da economia nacional, menos o atual Ministro; gente como Pedro Malan e Fernando Henrique Cardoso afirmam que, caso não haja um plano bem elaborado por parte do Governo Lula, poderemos estar na porta de uma crise ainda mais grave do que foi o Plano Collor. Gasolina poderá subir para conter as perdas da Petrobras, energia poderá subir para conter as perdas do setor de energia, passagens aéreas poderão subir ainda mais e assim, por conseguinte.
A economia do mundo suspira com ajuda de ventos fracos, vindos de aparelhos ainda inúteis e pouco utilizados e ninguém em sã consciência se arrisca num palpite mais conciso neste momento; três grandes bancos tradicionais americanos, tidos como intocáveis, já sucumbiram a esta crise e seus rombos foram enormes, deixando muita gente preocupada, inclusive seus grandes acionistas, que ficarão cautelosos e frearão todo e qualquer investimento que contenha qualquer risco, mesmo que seja moderado.
A coisa é tão séria que países afortunados e historicamente ortodoxos como a Suíça e Bélgica já prepararam seus pacotes de salvamento para suas instituições, segundo a imprensa mundial, os dois países já destinaram algo em torno de R$ 150 bilhões; Espanha com o Santander destinou R$ 1,5 bilhão e a Alemanha, outros R$ 100 bilhões, ainda assim, o grupo de “quebrados” americanos roga uma esmolinha de R$ 1,4 trilhão do Governo Bush, mas não apresentaram nenhum estudo concreto de ressarcimento desta bagatela, nem a curto, médio ou longo prazo; resultado: ficaram sem o jabá e terão que assumirem eles mesmos à porcaria que foi criada.
Enquanto isso, aqui, no terreiro do mundo, o povo não para de comprar carros em 70 meses sem entrada; o Governo incentiva o crédito e não ensina a poupar; tem gente que está comprando notebook e sequer sabe pra que serve, mas a oferta é tão tentadora e a situação brasileira está tão confortável, que ninguém pensa nos riscos e sai comprando tudo sem ter o dinheiro para pagar; por trás de todas estas operações de crédito direto ao consumidor, estão o Governo, os bancos e outros garantidores que também estão mergulhados na crise mundial; pelo visto, esta farra do boi vai ter que acabar, mas risco de suicídios, isso não precisamos temer, afinal de contas, o Brasil é uma escola de pós-graduação em calote e cara-de-pau.
A primeira bolsa de valores que se têm notícias foi a Companhia Holandesa das Índias Orientais instituiu e comercializou as primeiras ações a serem colocadas em um estabelecimento financeiro, criando a primeira bolsa de valores, localizada em Amsterdã, em 1602; nascia ali à primeira picaretagem explícita do mundo moderno, uma forma muitas vezes espúria de encorajar milhares de pequenos investidores, que juntos somam uma pequena fortuna, a ajudarem os mais ricos a ficarem ainda mais ricos.
Tradicionalmente os negócios aconteciam fisicamente no próprio recinto da bolsa: pregão viva-voz. Porém atualmente as transações são cada vez mais realizadas por meios eletrônicos em tempo real, onde são colocadas as ordens pelos compradores e vendedores: pregão eletrônico.
Os movimentos dos preços no mercado ou em uma seção do mercado são capturados através de índices chamados “Índice de Bolsa de Valores”. Os preços das ações servem também para indicar o valor de mercado das empresas cotadas em bolsa. Dessa forma, diversos negócios podem ser realizados entre elas e com outros investidores. A principal função da bolsa de valores é manter TRANSPARENTE e adequado o local para as negociações de compras e vendas de ações entre as sociedades corretoras membro. É indiscutível que o mercado financeiro tornou-se mais eficiente em países que possuem bolsas de valores, mas os pregões estão cada vez mais viciados e complexos; todos se dizem operadores, corretores e investidores, e a corrida por lucro fácil, sempre termina desta maneira, com a miséria de quem tem pouco; está claro que é o povo do mundo quem pagará esta fatura, começando pelo povo dos Estados Unidos da América, que hoje, se finge de rico, forte e inatingível; ledo engano!
O conselho que os bons economistas dão aos que investiram um pouquinho de suas economias em ações da bolsa é: “se precisarem do dinheiro em curto prazo, retirem-no imediatamente para não perderem mais; se não precisarão da graninha poupada e investida, faça a sua aposta e espere a roleta parar de girar...”!
Agora é cruzar os braços e esperar que este tsunami chegue a nossas praias sem muitos efeitos devastadores e mortais; quem sabe ainda não nos sobre algumas ondinhas inexpressivas, apenas para pegar um “jacaré”?
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
SITE DO AUTOR: www.irregular.com.br