...TALVEZ TENHA SIDO ALI QUE TUDO COMEÇOU...

Eu tinha de 14 para 15 anos. A menina com quem eu dividia os melhores dias morava em frente de casa. A minha família resolveu se mudar e fui muito grosseiro com as palavras. Com o desespero eu tentava afastar as melhores pessoas que havia ao redor. Pela tarde, na véspera de ir embora, ela estava sentada na escada em frente ao portão da casa dela, e eu estava sentado na guia em frente a minha casa. Ficamos bastante tempo ali apenas nos olhando. Lembro de neste momento estar escutando a voz rouca (que eu achava ser de uma louca na época) da Joplin, com certeza cantando sobre desamores que eu não entenderia naquele momento. Lembrando desse dia agora, não consigo recordar quantas vezes parti depois, sem saber ao certo pra onde, até que a necessidade de andar por aí se manifestasse quase como uma doença. Eu tenho saudade da menina com cabelos lisos quase negros, e sei que já a reencontrei com cabelos curtos, vermelhos e de diversas outras formas, em outros corpos e novas sensações, mas naquele dia, quando ela finalmente se levantou do lado de lá e caminhou até o meu lado e depositou o abraço mais forte que senti até hoje, tive a certeza de que estava perdendo algo bom que nunca mais encontraria em lugar algum, e talvez tenha sido ali que tenha iniciado a busca pelo que a vida pode oferecer de melhor: o aprendizado e o desconhecido em todas as suas faces.

"...CRYYYYYYYYYYYYYYYYY baby...

Cry baby..." JANIS JOPLIN