Mora na filosofia

Diretório Acadêmico, refúgio seguro (?) para sussurar qualquer único assunto: ditadura. Também para jogar xadrez com marcação de tempo, tabuleiro e peças reluzentes, esmeradas.

Ali as pretas tentavam ganhar das brancas, revertendo a iniciativa do ataque e abafando o estampido surdo que só se disfarçava em páginas de jornais ou nas folhas "sujas" do Pasquim.

Ali também se ouviam músicas proibidas.

O nome desse CD que agora ouço mais de 30 anos depois tem história: a volta de Londres foi permitida por poucos dias a Caetano Veloso, uma concessão especial para que o exilado pudesse participar da cerimônia de aniversário de casamento (40 anos)dos pais . Os militares propuzeram que ele fizesse uma música para homenagear a Transamazônica. Ele não fez, mas ao voltar à Inglaterra gravou esse disco e , com fina ironia, deu-lhe o nome: Transa

Eu ficava alí no DA, minutos que me pareciam horas, horas que me pareciam vida. Entre as músicas que povoavam cada canto daquele pedaço de liberdade, Caetano cantava essa de Monsueto que dizia com toda mansidão:

"botei na balança e você não pesou, botei na peneira e você não passou...
Mora na filosofia, prá que rimar amor e dor...".

Só mesmo ele para ressuscitar essa pérola de um compositor que até então só frequentava rodas de samba.

Mas afinal, as pretas algumas vezes também venciam as brancas, não apenas no xadrez...

Nilsson
Enviado por Nilsson em 28/09/2008
Reeditado em 02/01/2010
Código do texto: T1201030
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