AGUA FRESCA

Há poucos dias atrás, me vi envolvido insistentemente pelos noticiários sobre o avanço da gripe aviaria, que assolava economias e ceifava vidas pelo mundo.

Hoje, me vem na memória os tempos que ainda viajava e visitava fazendas do interior goiano. Pessoas simples, que abrigava e recebia com muito zelo, qualquer um que lhe chegasse à porta para um bom bate papo ou com alguma necessidade.

Mas o que me chamava à atenção era que nessas casas eu era sempre convidado a entrar na cozinha, onde havia um bule de café sobre a chapa de ferro, ainda quente do fogão a lenha. O café ficava ali a espera de algum visitante inesperado. E por diversas vezes o encontrei em vários fogões de diferentes casas em que visitei.

Nas salas modestas, havia bancos de madeira e uma providencial mesinha, encostada em um de seus cantos, com um forro colorido e uma moringa de barro sobre ela, onde em seu interior continha água pura, fresca e saudável, e ao seu lado um copo para quem quisesse matar a sede.

Conversas aconteciam ao seu lado. Sobre a decisão da hora de colher ou de plantar. Coisas eram sabidas ou sabidamente ignoradas. Por longos minutos aquelas conversas aconteciam, e a moringa ali, molhando as gargantas secas por onde fluíam palavras, ora animadas ou sérias, mas regadas a muita água fresca.

Hoje já não tenho noticias da gripe aviária me perseguindo, chegou à vez de gritos de pânico de uma senhora, que teve a pior noticia de sua vida no dia das mães, a mazela do abandono do poder público, ceifou a vida de seu filho, que infelizmente decidiu ser policial, e foram assassinados pelo crime “organizado”, e junto com ele, dezenas de outros, incluindo ate mesmo, um guarda florestal e um bombeiro, e a queima de dezenas de ônibus e a depredação de propriedades publicas e privadas, na maior cidade do país e a terceira no mundo.

Diante desse quadro dantesco, Lembro-me da moringa e do copo ao seu lado, e da arte de bater um bom papo, que essas pessoas esqueceram, e agora são gladiadores do nada, tornando público que a hora de plantar conhecimento, não foi sabiamente decidida e a aridez da ignorância esta assolando o país, aguardando, quem sabe? Uma moringa sobre a mesa, refrescando dessa vez a tomada de decisão, do dito poder público. Por que ainda ha tempo de plantar civilidade, cultura, educação, saúde e honestidade e quiçá eles possam dar, para exemplo, suas vidas virtuosas.

DIMITRI

16/5/2006 11:42