Uma porta giratória
Existem coisas que jamais imaginaria fazer parte, ou melhor, dizer vivenciar. Mas como a vida é uma caixinha de surpresas sem fundo, me vi obrigado a compactuar de um momento incólume, se bem, que vamos logo dando as devidas desculpas pelo tal feito, até porque, como bom brasileiro, tenho de por a culpa em alguém, e aqui metralho de cara a chuva improvisada, se é que existe chuva com previsão nesta bela cidade praiana, onde mesmo de previsão só o tal vento “sudoeste” que numa fração de segundos expulsa um turbilhão de nuvens que de mãos dadas circundam a cidade e trazem os raios do sol a acariciar a areia das praias, a grama sintética dos parques municipais, o espelho d’água do canal que alimenta a Lagoa e tudo mais que o sol faz questão de fritar. Mas, o mesmo que leva é parente do outro que traz ou será o contrário, sei lá! O outro é o tal vento “nordeste”, qual eu não sei, mas um deles mandou uma garoa de hora de almoço que logo se transformou em chuva torrencial e me pôs no caixa eletrônico tamanho família da agência bancária que estava eu a porta numa fila de espera, isso mesmo, a tal coisa que eu jamais pensava que faria parte, e o único abrigo que me salvou foi o meu observatório, pois foi dali que fiquei pasmo com o adentrar dos transeuntes rumo ao interior da agência, e todos tinham de passar pela moderna e complicada “porta giratória”. Aquela correição de cidadãos um a um empurrava as lâminas da porta e rompiam aquele obstáculo do futuro que logo travava quando dois resolviam ou por medo ou enrolo mesmo partejarem do mesmo espaço e olha que na física já dizia “dois corpos não podem ocupar um mesmo espaço ao mesmo tempo”. Se ali tivesse um radar certamente haveria multa para muitos que na ânsia mais de sair do que entrar naquele giro, superavam as marcas olímpicas da 3ª idade, junto aos muitos que ficavam asfixiados pelo travar da tal invenção o que se via era o mergulhar de celulares na tal caixa que existe para se livrar momentaneamente dos travadores daquele cilindro, não é atoa que digo que o celular é o invasor do futuro, e então vem o momento pior, já movimentada a certa altura começa o sair misturado ao entrar ainda com os travados duplos e os retrógrados de lei, olha, que confusão essa engenhoca consegue causar, de utilidade mesmo só como gerador de empregos, pois ficam ali a observar dois guardas de trânsito de banco controlando quem vai e quem fica na tal porta giratória.
Junior – Um sonhador