PIQUI
Bom dia. Estou no sétimo minuto do dia. Chove e faz frio a nove dias do verão e pelo jeito vai amanhecer da mesma forma e o meu domingo vai ser ótimo. Quantificar, qualificar. Me pego em medições, tolices, domingo com frio e chuva, só eu mesmo para precisar disso. Outro dia atendi uma cliente de viagem para os E.U. A que precisava de uma caixa especifica para embalar outra caixa, térmica. Não trouxe as medidas, usava a memória, e acreditava que eu poderia traduzir em números os mais ou menos, assim, mais alta, mais baixa em gestos, na tentativa de me fazer entender a sua necessidade métrica, e nessa: tiro, mostro, guardo ou monto uma infinidade, até que, a olho e já com intromissão de outro cliente, sem resultado pratico lhe peço para que consiga as medidas certas, convencida da solução, sai agradecendo.
Medidas, como vivemos presos a elas. NA matemática da vida tudo se encaixa por mais que achemos que estamos num balaio de gato. Hoje essa cliente apareceu trazendo uma caixa térmica vazia para transportar alguma coisa. E perguntei o que levaria?
— Piqui.
Na mesma hora lhe digo para levar o açafrão e as folhas de louro para temperá-lo e mostrar algo diferente de hambúrguer com ket chup e batata frita para eles, brinquei. Não quis fazer pouco da culinária americana. Para quem não o conhece, é um fruto típico do cerrado usado para cozidos, licores. Um dos pratos mais apreciados da culinária goiana é o frango com piqui. É de dar água na boca. Seu aroma invade com harmonia todos os ambientes da casa. É uma delicia! É um fruto com um aroma forte e uma polpa amarela a ser roída saborosamente, com extremo cuidado, por ter em seu interior milhares de espinhos diminutos. Quem prova a sua polpa não esquece nunca do sabor, e se os mordem, ao invés de roerem, também não o esqueceram, pois vão ficar um bom tempo removendo seus espinhos da língua. O prazer exigindo cautela.
— Se encontrar um goiano na alfândega, passa com certeza, mas vai lhe pedir um pouco.
E rimos por instantes da possibilidade. E ao invés de lhe vender simplesmente a caixa, peguei o empacotamento para fazer. Mas o licor feito com uma cachaça de alambique não tem iqual. Me reporta a época em que meus avôs ainda estavam entre nós. Sempre havia uma garrafa sobre a mesa. O seu aroma tomava conta do ambiente enquanto era servido e sorvido para o deleite de todos. Bons tempos aqueles.
A arvore e seus frutos são amplamente utilizada na indústria, farmacêutica, cosmética, alimentícia e moveleira, mas para mim ela tem uma peculiaridade marcante, não vive só (em área desmatada), precisa de outras para sobreviver e por ironia do destino seus frutos estão indo para a capital de um país que se recusa a assinar o tratado de ki Oto. Tratado esse que limita a emissão de gases poluentes e que agride a todos, talvez por ser brasileiro, um país plurirracial onde tem espaço para todas as raças, credos, culturas e tudo mais que envolve o ser humano, é que anseio que ao saboreá-los aprendam com o nosso piqui que devemos estar acompanhados nesse planeta para frutificarmos. Experimentem piqui.
DiMiTRi
11/12/2005 14:21