Ó!
Senti-me estapeado no rosto com a forma como a Globo leu o censo do IBGE. Tive a sensação de que o Brasil – pobre Brasil – não está no primeiro mundo por causa do Nordeste.
Malandro e hipócrita é o Brasil. Por que não deixa o Nordeste em paz? Por que não deixa o Nordeste seguir seu próprio caminho? No Ceará, os escravos não precisaram matar nem morrer para serem libertos. Aquele Estado os libertou dez anos antes do resto do país!
Mas, nem é preciso voltar tanto no tempo para se ter um pouco de brio e vergonha na cara lisa. Aqui mesmo, diariamente, batem-me à porta muitos andantes a pedirem dinheiro e comida. Eu simplesmente não dou. Se for dar uma de bonzinho – como este país sujo e imoral – amanhã estarei pedindo também.
Rogo-te, Brasil, não leve mais às costas o Nordeste. Deixe-o em paz, no canto dele. Pode muito bem caminhar sozinho. Tem braços fortes, pernas boas, inteligência – meça pelo meu texto e tente escrever igual – e coragem para trabalhar. É só o país deixar de cortar o pescoço de quem pensa, por lá!
Há pouco tempo, aconteceu aqui, numa família primeiro-mundista - modelo tão invejado por este país de índio e negro que quer ser europeu.
O pai morreu e deixou a viúva bem alojada numa casa boa e bonita, aposentadoria, pensão e um trabalho para preencher os dias. O filho único, concluindo a faculdade de medicina, não trabalhava e exercitava o corpão viril na academia.
Tudo preparado para dar certo, até Satanás resolver fazer justiça. E a justiça deste é diferente da justiça de Deus. A cabeça do Cão, já dizia minha avó, é diferente da nossa!
O filho único da família modelo, concluiu a faculdade, mas não quis submeter-se a salário baixo. Nada lhe faltava, a mãe tinha vultosa poupança na Caixa, roupa lavada, comida à mesa e mesada. Foi tocando a vida na academia, passeando de carro novo e, para espairecer, passou da maconha ao crack.
Foi passando o tempo, nada de trabalho e o crack aprofundava as crateras na cabeça oca do marombado, até reduzi-lo a maldito estorvo à mãe. Brigas constantes entre mãe e filho único.
O único filho, então, não suportou mais tal situação, juntou sua galera e matou a mãe à pancadas, no intuito de realizar um sonho: transformar à casa da família em pedra, em pedras de crack.
É por isso... É por essas e outras que repito aqui, com muita satisfação, as palavras que ouço desde o sertão cearense: é mais fácil o mar secar do que o Nordeste e o Brasil tornar-se um!
Um sonho não se extermina matando, degolando ou injuriando. A mentira não tem poder para acabar com o ideal de Tristão Gonçalves, Antonio Conselheiro, Padre Cícero – ainda que tal mentira chicotei-nos disfarçada de “verdade absoluta”, na voz do Jornal Nacional.
Peço-te, Brasil, não perca a chance de entrar no primeiro mundo. Livre-se do Nordeste, deixe-nos em paz. E não demore, pois, estou louco pra voltar pra casa.