UM DIA E TANTO!
Cinco e meia da manhã de segunda-feira, fria, inicio de Primavera – por volta do meio dia de hoje, 22 de Setembro. O despertador do meu celular, programado para este horário nem chegou a trabalhar, acordei antes.
Cinco e meia da manhã de segunda-feira, fria, inicio de Primavera – por volta do meio dia de hoje, 22 de Setembro. O despertador do meu celular, programado para este horário nem chegou a trabalhar, acordei antes.
Tenho que ir ao Hospital fazer exames de sangue – em jejum absoluto, desde às 21 hs – nada sério, coisas de rotina, que os médicos nos arrumam. Banho às pressas, porque, apesar de não estar tão distante assim, necessito tomar duas conduções, mas em uma hora lá estarei, entre uma baldeação e outra. Pior é transportar – bem acondicionados em uma sacola forte, de plástico – quase dois litros de urina, colhidas no espaço de 24 horas. Tudo muito bem cuidado, senão seria um verdadeiro desastre se isso arrebentasse no ônibus!
Minha mãe já dizia: - Eu não procuro médicos, pois quem procura, acha! - No que ela estava coberta de razão. Um saco isso! Após os 50, temos que nos conformarmos em andar com o "Kit-saúde" ( ou seria "kit-doença"?) à tiracolo!
- Façamos o que tem que ser feito, sem reclamar.
- Façamos o que tem que ser feito, sem reclamar.
Não entendi nada, ao chegar. A fila do Laboratório, antes das sete horas da manhã, dobrava a esquina e descia os primeiros degraus da escadaria do primeiro andar. Coisa de louco, nunca havia me deparado com uma situação daquelas, nos 30 anos que sou usuária do Hospital dos Servidores Públicos, mais os três que lá trabalhei, antes de prestar Concurso Público. Como não sou de esperar ninguém me dizer, fui pessoalmente conferir o que havia ocorrido.
Depois de caminhar por um bom tempo, entre os usuários, irritados e que se espalhavam por todo o longo corredor, consegui chegar ao início.
-Tenho verdadeira fobia à filas!
Idosos em jejum absoluto, pessoas irritadíssimas, gritando com dois rapazes que tentavam arrumar o defeito no aparelhinho que anunciava os números no painel eletrônico. E ninguém que se interessasse em resolver o problema.
- Ei, não há nenhum funcionário do Hospital para tirar a bunda da cadeira e começar a trabalhar, de fato? Não é possível que vocês não tenham um Chefe, um Administrador, quem quer que seja, para resolver o problema e não deixar que um simples aparelho eletrônico, que não funciona, atrapalhe o atendimento de um Laboratório de Análises Clínicas! Desse jeito, as amostras de material, o jejum de longas horas, todos perderão o seu valor! Dá para confiar nos resultados depois!?
- Odeio pessoas sem o menor senso de humanidade!
E, assim dizendo, liguei a minha câmera, que está sempre a postos – fico ouvindo MP3, enquanto espero, quando não estou com meu bloquinho, escrevendo – e comecei a gravar a bagunça generalizada. Nem preciso dizer o quanto isso teve a aprovação geral, não é? Todos se aproximaram para dizer algo, reclamarem, darem sugestões.
- Que o Sindicato dos Jornalistas não descubram!
- Que o Sindicato dos Jornalistas não descubram!
Imediatamente o Painel começou a funcionar e a enfermeira-chefe, pegou minha requisição de exames de minhas mãos, anotou, deu-me uma senha – a número 1 – e levou-me à sala 10, especializada em recolher amostras de sangue para o exame GTT. Eu relutei, disse a ela que não estava em primeiro lugar, que encontrava-me lá no fim da fila, mas ela não me deixou continuar. – Não tem importância, esse exame da senhora tem prioridade mesmo – disse-me ela. Não gostei que isso tivesse acontecido.
- Detesto “levar vantagem” e prevalecer-me de situações!
Depois de retirar amostras de sangue de meia em meia hora, por cinco vezes, estourar a primeira veia que conseguiram pegar – são fujonas – e ficar com manchas roxas horríveis no braço, enfim, saí, aliviada!
- Ao menos tudo voltou à normalidade.
Na volta para casa, em pé no ônibus, que me levaria até o Metrô, uma menininha linda no colo do avô, fitou-me e disse: - Moça (gostei do moça), como é seu nome? – Emília, respondi. – e o seu? Ela, toda prosa: - O meu é Cíntia! – Lindo nome, Cíntia, mais bonito do que o meu e você também é muito linda! E, quantos aninhos você tem?
- Tenho cinco, mas o meu nome não é mais bonito do que o seu e você também é linda! Mais bonita do que eu... Fiz um carinho naquele rostinho sorridente e disse-lhe: - Não, Cíntia, você é a mais linda do mundo! E a mais esperta, também!
- Criança não deveria crescer!
- Criança não deveria crescer!
Depois de metros de fila, irritações, sangue que jorra do braço, gritos, discussões e o cacete, meu dia foi salvo.
A inocência daquela criança, aqueles olhinhos curiosos, valeu cada minuto de transtornos daquela manhã!
- Quem me dera vivenciar outros assim!
- Quem me dera vivenciar outros assim!