Conversas de farmácia

Era mais um dia como outro qualquer na capital paranaense… Estava frio, cinza, uma garoa fina e gelada caia ininterruptamente (nossa, deve ter algum erro no meio dessa palavra!!!).

Ela estava na seção de anti-gripais de uma farmácia qualquer, com a sua eterna dúvida: “qual comprimido levo?”. Enquanto ela analisava diversas cartelinhas, fazia cara de pensativa e espirrava, espirrava, espirrava, ouviu um “Ei!”. Ela levantou os olhos e olhou para sua frente, onde estava moço do “ei”, que continuou:

- Você não pretende levar isso, pretende?

- Oi? (ela olha para os lados). É comigo?

- Sim, sim.. com você mesmo. Não pretende levar isso, né?

- Ah! Pretendo sim. Se eu não tomar uma providência essa gripe vai entrar na minha declaração de Imposto de Renda deste ano como dependente. E outra, se tem uma coisa que eu aprendi nesses anos todos de vida é que as porcarias sintéticas servem justamente para isso: aliviar essa sensação de mal estar.

- Você deveria confiar mais nos seus leucócitos.

- Como?

- Seus leucócitos, oras.. Eles mesmos cuidarão para eliminar os invasores do seu organismo.

- Diga-me, você sempre se intromete nas compras das pessoas ou tem visto muita propaganda de paracetamol, onde pessoas espirram e lá vem o ator perguntar “é gripe?”.

Ele sorri encabulado e diz:

- Ah! Desculpe-me! É que vi sua cara de dúvida olhando para as cartelinhas, senti a obrigação de te reconfortar, te avisar dos leucócitos, mas principalmente, dizer que não se mistura medicação que contenha paracetamol.

- É médico? Enfermeiro? Hipocondríaco?

- Estudo Medicina (diz entre risos). Estou no terceiro ano.

- Sabia! Deve tomar cuidado, viu? Está claramente sofrendo de obsessão.

- Não diga - risos - És psicóloga?

- Praticamente. Passar no vestibular me torna apta a exercer a profissão, mesmo que eu tenha optado por outro curso, não?

- Depende, o que cursou?

- Administração.

- Ah sim! Praticamente cursos “cromátides-irmãs”.

Ela sorri:

- Sua sorte é que eu sempre gostei muito de biologia, mas vou te contar uma coisa.. pessoas normais não iam rir dessa piadinha e nem entender que está falando de divisão celular, meiose e blá blá blá. Outro sinal claro de obsessão.

- Desculpe - risos -, eu não reparei que tinha dito isso em voz alta. Vem sempre aqui?

- Só quando preciso de remédios, absorventes, tinta pra cabelo, lenços de papel, ou quando preciso de um médico e não quero ir para o hospital. É comprovado.. é só a gente ficar em uma seção da farmácia misturando medicamento, que algum surge do além para falar em leucócitos.

Ele sorri:

- Você é sempre engraçada assim?

- Provavelmente não.. deve ser o que acontece quando se mistura medicação com paracetamol

Maahh
Enviado por Maahh em 23/09/2008
Código do texto: T1192413
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