O CULTO À BANDEIRA
Nos idos de 1953, ano que tomei contato com as penúrias estudantis,
culto à bandeira era o nome que recebia aquela hora cívica semanal realisada no extinto e muito saudoso Colégio de Passos, e lá, como um complemento, funcionava também a Escola técnica de Comércio São José. Tudo isto no mesmo prédio onde funciona hoje a Escola Estadual Prof. Júlia Kubstichek.
Toda rapaziada, e até a garotada, metidos num instrumento de suplício que indevidamente recebia o nome de uniforme. Aquela parafernália medieval era constituida por uma gandola de brim caque, fechada por uma quantidade enorme de botões. A calça confeccionada com o mesmo tecido,trucidava a genitália do sofrido postulante a homem sabio. Sinceramente que já não mais me recordo do tipo de calçado que usávamos. O que se usava à época eram botinas ou sapatos de sola batida, tudo produzido nas sapatarias da cidade.
Eu, um garoto de apenas sete anos de idade, recem chegado da zona rural, onde imperava o uso das calças curtas, pouca roupa e quase calçado nenhum.
Pode o leitor imaginar o tipo de impacto que aqueles instrumentos de suplícios causaram em minha vida? Não nego porem que houveram lições altamente positivas. A primeira delas foi o respeito aos simbolos nacionais, mas já à aquela começavam a surgir claros sinais de rebeldia que não apagavam a beleza do cerimonial. Principalmente um cordeiro branco ornado por uma capa azul, não falo com certeza mas parece que aquilo reprezentava a pureza, alguma vez ouví dizer que ele era o "ESCUDEIRO DA HONRA MAIOR" no momento não entendí bulhufas, e nem tentei entender posteriormente. Mas como a meninada gostava de chamar aquele carneirinho era de mascote.
Mas na hora do "vamos ver", na hora da "onça beber água" entrava um piquete quase marcial composto por taroleiros e corneteiros, cantavá-se o Hino Nacional, falava-se dos méritos e dos desatinos ocorridos durante aquela semana, com os conseqüentes pregos para uns, e as honrosas medalhas para outros. Sintetizando-se tudo eu realmente não sei qual foi o resultado cívico daquelas encenações em minha vida.