Despedidas...

Uma madrugada de inicio de primavera, mais ainda com roupas de inverno, resume-se aquele momento. O local, a úmida, fria e vazia rodoviária de uma cidade serrana do Estado do Rio de Janeiro. Como companhia uma carreira de cadeiras negras com seus assentos vazios sendo observadas por imponentes caixas eletrônicos disfarçados de outdoor de propaganda eleitoral ambulante, cada um no seu canto. O silêncio é quebrado pelo ranger do subir das portas de aço do guichê da empresa de ônibus, então, anuncia-se à “festa surpresa”, pois é a impressão que tenho, já que num continuar da madrugada, carros com seus olhos acesos a iluminar e rasgar o período matutino começam a esfregar-se pelos meio-fios daquela construção de concreto fincada entre o rio que a separa de uma casa de shows e o eixo rodoviário, que leva a esta o fluxo dos convidados. A grande maioria chega carregando em suas mãos como passes para participar do evento uma infinidade de acordo com a quantidade de pessoas, de bilhetes azuis; e o mais curioso é que se assemelha a uma festa de pré-adolescentes, ao menos as do estilo da minha saudosa época relembrada, pois os pais iam a porta levar e depois buscar, ah! Que saudades. Um detalhe me chama a atenção, os jovens na sua maioria todos de mochilas as costas ou bolsas a carregar pelas suas mãos, rompem o cordão umbilical de seus pais que na maioria ali se evidência, posso observar abraços apertados e beijos de uma saudade já construída pelo partir dos que vão rumo aos aquecidos ônibus, já que sem bilhetes para participar no seu interior, o frio não vai; aquele até breve de todas as formas registra-se. Existem aqueles que em tom de vergonha penso eu apenas dão um tchau, sem permiti o afago dos abraços, mas com certeza no interior há uma saudade fraterna. Num lance remoto observo um pai encostar-se na parede divisória e ficar ali vislumbrando os olhos de sua cria limitada pelos “blindex” dos trens do asfalto que já na plataforma balançam suas carcaças impulsionadas pelas cilindradas dos motores, e ali mesmo vejo a viagem da saudade daqueles que ficam e dos muitos que vão. Eu, não tenho ninguém a me vislumbrar ali, até porque só estou passando, mas fico aqui excursionando em minha mente a alegria do fim de semana quando a história vai se repetir, só que num sentido inverso, pois vem o regresso. A fumaça percebida só pelo seu calor e seu cheiro aumenta, e os braços abanam-se junto às mãos num gesto de adeus, de até logo, de um até breve. Que saudades deixam uma despedida.

Junior – Um sonhador.

Onofre Junior
Enviado por Onofre Junior em 22/09/2008
Código do texto: T1191094
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