A harmonia do silêncio entre as palavras
Eu li um poetrix muito interessante que dizia mais ou menos assim:” eu escrevo, pois não posso gritar”. Então, aquelas palavras ficaram martelando na minha cabeça que vive congestionada de pensamentos tormentosos. Concluí: já eu escrevo pelos silêncios que existem entre as palavras, por tudo que não é falado, mas, fica engarrafado nos nossos neurônios. Também, o silencio que fica entre palavras que se esvaziam no espaço aberto entre as pessoas. Deste modo, fazendo um vácuo que se estende muito, esgarçando as relações humanas dos insensíveis, pois os termos nunca são suficientes para preencher as vagas abertas em todas as palavras ditas. Às vezes, só às vezes, não ditas, entretanto, deixadas entreabertas numa imensa cavidade sideral
Pergunto-me em indizíveis vezes, pra vão as palavras soltas entre os silêncios dos amantes separados, quando ainda há amor em umas das partes. Quem escuta este silêncio barulhento de quem vai, no entanto, fica com incomensurável dor do abandono. Não se sabe, pode ser que fiquem vagando em algum espaço entre uma e outra expressão discorrida, porém, não escutada. Como se fossem os versos em prosa de um insano gritando palavras desconexas pra muitos e cheias de nexos para outros que são os poetas. Esses, em variadas circunstâncias, conseguem transformar os silêncios das angústias alheias em palavras rimadas, ritmadas ou não.
Ao mesmo tempo, atormenta-me tudo que fica na agonia do silêncio de quem perde alguém querido, todavia, não diz nada, vai deixando a dor passar como se fosse um rio escorrendo para o mar. Todos veem a dor se instalando, porém, as palavras não são ditas, fica somente um silêncio dolorido, às vezes é compreendido pelos mais sensíveis, outras vezes perde-se numa imensidão de expiação. O sossego ficando entre as palavras que poderiam ser faladas, mas não o são, parecem ser a parte mais importante das pessoas, devemos entender, mas sem decodificá-la com perguntas, interrogações para depois traduzir tudo em longas e cansativas teorias de autoajuda.
As pausas longas e intermitentes das palavras interiores que nos assolam em pensamentos, talvez sejam as nossas marcas internas, codificadas que nos tornam mais fascinantes perante os outros. Eu li um livro chamado Nas tuas Mãos, de Inês Pedrosa, dentre muitas palavras lindas, havia uma oração que dizia: ”Cada pessoa é uma harmonia de solidão, decompô-la apenas pode fazer com que a sua música se torne inaudível.” Talvez, a única decomposição possível seja a poesia com a prosa insana dos sonhadores que justificam os silêncios do mundo com palavras figuradas e metafóricas.
Isa Piedras
2o/09/2008