Um pouco do Rio Grande
Águida Hettwer
 
     As idéias não fluem sozinhas, necessitam de retornar ao um ponto, quebrar uma esquina da vida, vasculhar uma janela entreaberta. Brincar de esconde-esconde com os pensamentos, para desaguar num mar de sentimentos. A mente viajou kilômetros e pousou em algumas décadas atrás. Há cheiro de naftalina no ar, as gavetas de lembranças estão expostas, onde a inspiração vagou nas ruas pacatas de uma cidade interiorana onde cresci e me fiz moça. Degustando saudade das rodas de chimarrão entre as vizinhas, de crianças brincando na frente de casa, sem a violência dos tempos modernos. Das amizades cultivadas na alma. De uma terra abençoada pelo vento minuano, no intenso inverno, dava-se para escrever nos carros depois de uma noite de geada. Retine o sino na domingueira, famílias saiam em procissão para ir à igreja. Camisas engomadas, sapatos lustrados, tudo muito alinhado. Do sotaque carregado ainda tenho um bocado, vestidos de Chita, deixavam as “Prendas” mais bonitas. Esse é o meu Rio Grande entre laços e fitas.
 
 
22.09.2008