Os astros dizem...
O sol anuncia um novo dia. Pequenas nuvens brancas tentam encobri-lo, em vão. Seus raios rompem á galáxia em todas as direções. Olho pra ele e me pergunto, qual a ordem do dia. Ele simplesmente sorri. A minha volta prédios e casas num vai e vem de gente como se fosse um grande formigueiro. Grito bem alto: o que faço? Como resposta só o barulho ensurdecedor do ônibus e carros que rompem as ladeiras. Outras nuvens tentam se juntar para cobrir o brilho do sol, agora escaldante. Seu aliado, o vento entra em cena e dissolve a tentativa de agrupamento.
Lembro das palavras de sábios do ocidente e do oriente. Pra vencer na vida é preciso iniciativa. Um sorriso triste brota em meu coração. Olho no farol um garoto vende água. Pergunto-me, posso fazer isso. Posso? Mais adiante um senhor puxa uma enorme carroça de lixo reciclável. Novamente a pergunta. Posso fazer isso? Teoricamente posso. Mas falta-me iniciativa.
Penso que numa sociedade de mais de quinze milhões de pessoas há algo mais útil a fazer.
O dia vai passando, e eu não encontro o rumo. E muito menos uma porta para me acolher.
O sol satisfeito por ter cumprido sua tarefa começa a se distanciar. Vai cumprir a rotina e bater seu cartão de ponto no outro hemisfério Ele ainda é um gigante e consegue trabalhar vinte e quatro horas por dia sem parar. Eu não. Meio século de existência começa a pesar.
Tanto que já encaminhei centenas de currículos em busca de emprego e não obtive nenhuma resposta. Se as pessoas não me conhecem, só podem ter me cortado pela idade. Penso eu. Pensar é o que mais faço. Exame de consciência; onde errei, falhei, ou pequei. Já que somos um dos maiores países católicos do mundo, resta-me a fé.
Há mais de três meses tento ler um livro, não consigo. Mas também não tenho dinheiro para comprar outro, e muito menos para pagar as contas. Continhas pequenas; condomínio, luz, água, etc.
Nem percebi a beleza prateada no horizonte. Dona Lua chegou religiosamente no horário. Já imaginei o Dragão de São Jorge com morada nela. Nenhuma novidade: muita gente também já imaginou.
Poetas então nem se fala; imaginaram princesas e fadas. Ah! Dona Lua traz alguma ordem pra mim. Silêncio prateado. Nem mesmo um eco de esperança. Vejo outras atividades da noite e me pergunto. Isso é pra mim?
Ai vêm os morcegos, as aranhas noturnas e a velha insônia. Entro em luta com ela até vencê-la, geralmente na última rodada, ai durmo algumas horas para viver mais um dia no ócio.
Jaeder Wiler