UM JARRO COM BUGARIS FRATUROU MINHA TÍBIA
Eu e minha esposa amamos plantas ornamentais e temos uma boa quantidade delas, algumas com flores que se espalham pelos varais, parapeitos e demais espaços um tanto exíguos mas ainda disponíveis por entre os móveis do nosso apartamento. Elas preenchem de poesia os nossos corações e alegram nossas almas com seus sorrisos discretos e só perceptíveis pelos sensíveis à beleza da vida em todas as suas manifestações.
O perigoso jarro de cimento com um lindo pé de bulgari diariamente podado para não se distribuir além das possibilidades de seu hospedeiro inadvertidamente foi colocado num cantinho do corredor, local de constante ida e vinda de nós dois no cotidiano. Silencioso e discreto, ali no seu "pedaço" tranquilo, ele foi permanecendo no inadequado lugar enquanto os dias passavam e nos preocupávamos com outros afazeres, deixando-o sossegado e nos acostumando a desviar dele como se já fizesse parte da paisagem. Em momento nenhum pensamos em tirá-lo de lá, até mesmo para não continuar atrapalhando o vai-e-vém rotineiro. A azáfama adiava essa providência necessária. Por conseguinte, ali onde ele fora deixado podávamos o pé de bulgari e o regávamos, dando-lhe todo o tratamento adequado e seguindo a vida.
Até acontecer o desastre. Embora habituados àquele obstáculo inesperado no corredor e se bem inebriados com o perfume exalando dos bulgaris, uma luzinha lá no nosso cérebro ficava piscando o tempo todo anunciando que já passava da hora de tirar o tal perigoso jarro de cimento do caminho. Liberar o corredor com urgência deveria ser algo para ontem. Contudo a luz não nos impressionou muito, tanto que o monstrengo contendo a beleza da planta foi ficando e ficando...
Na madrugada de quinta-feira passada, por volta de meia noite e meia, pensando em tomar um reconfortante banho morno antes de dormir, fui buscar a toalha que estava no varal da área de serviço. Na volta, não dei muita importância ao notar a lâmpada do corredor apagada. E fui em frente, esquecido do jarro, do bulgari e do perigo. O impacto se deu de maneira tão forte e absolutamente intensa que caí, perdendo as forças e sentindo uma dor astronômica que me arrancou um grito de agonia e grossas lágrimas desceram face abaixo ...o líquido escorrendo na minha perna e a dor extrema me fizeram compreender que eu caíra na cilada armada pelo jarro de cimento e pagara muito caro o tropeço de tê-lo esquecido bem no meio do meu caminho. Depois não vi mais nada, um doce desmaio livrou-me do instante agônico.
Despertei no pronto-socorro, os lindos olhos amorosos de minha esposa me fitando pressurosos e vermelhos de tanto chorar. Lancei um olhar de esguelha à perna acidentada ao recordar o acontecido e vi-a já engessada. "A tíbia", sussurrou ela, "você fraturou a tíbia".
Eu e minha esposa amamos plantas ornamentais e temos uma boa quantidade delas, algumas com flores que se espalham pelos varais, parapeitos e demais espaços um tanto exíguos mas ainda disponíveis por entre os móveis do nosso apartamento. Elas preenchem de poesia os nossos corações e alegram nossas almas com seus sorrisos discretos e só perceptíveis pelos sensíveis à beleza da vida em todas as suas manifestações.
O perigoso jarro de cimento com um lindo pé de bulgari diariamente podado para não se distribuir além das possibilidades de seu hospedeiro inadvertidamente foi colocado num cantinho do corredor, local de constante ida e vinda de nós dois no cotidiano. Silencioso e discreto, ali no seu "pedaço" tranquilo, ele foi permanecendo no inadequado lugar enquanto os dias passavam e nos preocupávamos com outros afazeres, deixando-o sossegado e nos acostumando a desviar dele como se já fizesse parte da paisagem. Em momento nenhum pensamos em tirá-lo de lá, até mesmo para não continuar atrapalhando o vai-e-vém rotineiro. A azáfama adiava essa providência necessária. Por conseguinte, ali onde ele fora deixado podávamos o pé de bulgari e o regávamos, dando-lhe todo o tratamento adequado e seguindo a vida.
Até acontecer o desastre. Embora habituados àquele obstáculo inesperado no corredor e se bem inebriados com o perfume exalando dos bulgaris, uma luzinha lá no nosso cérebro ficava piscando o tempo todo anunciando que já passava da hora de tirar o tal perigoso jarro de cimento do caminho. Liberar o corredor com urgência deveria ser algo para ontem. Contudo a luz não nos impressionou muito, tanto que o monstrengo contendo a beleza da planta foi ficando e ficando...
Na madrugada de quinta-feira passada, por volta de meia noite e meia, pensando em tomar um reconfortante banho morno antes de dormir, fui buscar a toalha que estava no varal da área de serviço. Na volta, não dei muita importância ao notar a lâmpada do corredor apagada. E fui em frente, esquecido do jarro, do bulgari e do perigo. O impacto se deu de maneira tão forte e absolutamente intensa que caí, perdendo as forças e sentindo uma dor astronômica que me arrancou um grito de agonia e grossas lágrimas desceram face abaixo ...o líquido escorrendo na minha perna e a dor extrema me fizeram compreender que eu caíra na cilada armada pelo jarro de cimento e pagara muito caro o tropeço de tê-lo esquecido bem no meio do meu caminho. Depois não vi mais nada, um doce desmaio livrou-me do instante agônico.
Despertei no pronto-socorro, os lindos olhos amorosos de minha esposa me fitando pressurosos e vermelhos de tanto chorar. Lancei um olhar de esguelha à perna acidentada ao recordar o acontecido e vi-a já engessada. "A tíbia", sussurrou ela, "você fraturou a tíbia".