Estórias de quintais

Na entrada da sede um grande bambuzal, uma porteira e um banco para retomar o fôlego. Pelo corredor de “guerobeiras”, chegamos à casa. Samambaias, flores de maio e outras plantas são as donas da varanda. Somos recebidos/as pelo olhar desconfiado de Sr. Crisovaldo e pelo sorriso sincero de D. Maria.

É dada a largada para as comilanças: queijo, café, canjica, mané pelado, rosca, biscoito de queijo e leite. Pra arrematar, garapa sob as mangueiras. Sr. Crisovaldo era quem pilotava a geringonça com o auxílio de alguns voluntários. Andando pelo quintal, os olhos percorriam a casinha de peão ou de visitas, galinheiro, estaleiro para a cura dos queijos, plantação de trato para o gado, curral, “eita” cheirinho bom de esterco! O balanço amarrado na árvore nos presenteava com as traquinagens destes e de outros tempos.

Sob a sombra de frondosas árvores, alguns sentados nos bancões de madeira, outros em tamboretes, cadeira ou mesmo na rede, fez-se a grande roda. Um dos caminhantes agradece a hospitalidade com a poesia de Cora Coralina: - Havia na roça umas tantas práticas que se cumpriam religiosamente. Os chegantes: “Ô de casa.” “Ô de fora.” Tome chegada, se desapeia. - Só a voz dele e a do vento...

Findado o emaranhado de palavras, os que ali estavam queriam ouvir mais estórias e, por que não?, um pouquinho da incansável jornada dos donos da casa. D. Maria vai detalhando os passos do casal em meio às interrupções graciosas do esposo. Moravam numa chácara muito próxima à cidade, como ela mesma disse “não estavam nem lá na cidade, nem cá na roça”. Acostumados sempre à vida rural, tinham gosto pelo campo. O marido também trabalhava na cidade, como vigia. Ele a interrompe para dizer que o trabalho era moleza, não fazia nada e ainda abocanhava o “x salada” do cachorro. Aonde já se viu uma gostosura daquela para o cachorro...

Bem dizer da verdade, os dois queriam mesmo era voltar para as suas raízes rurais. Venderam o “nem lá nem cá” e saíram neste mundão de Deus com o filho, a procurar umas terrinhas. Por derradeiro encontraram; mas o que fazer se o dinheiro não dava. Virar as costas e tomar o caminho de volta... Mas qual a surpresa dos dois quando o filho se propôs a entrar com a parte que faltava. Economias guardadas por um jovem, que poderiam virar um carro novo, uma bela viagem... mas o desejo de ver realizado o sonho dos pais e por obter uma melhor qualidade de vida para os mesmos, o fez decidir pelo investimento.

Eis que com as dificuldades e as facilidades destes “tempos novos”, D. Maria e Sr. Crisovaldo são mais felizes ali, onde a lida pode ser mais dura, porém a fartura e o bem estar da vida na roça, hão de prolongar seus dias aqui na terra. “Normas de cortesia roceira com seu toque romântico de boas maneiras... despediam-se em gratidão e repouso”.

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 21/09/2008
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