AS CURVAS PERIGOSAS DE UMA MORENA

Casado há 20 anos com dona Matilde, nunca antes Aristóteles tinha mostrado um comportamento tão estranho.

Desde que retornara de uma viagem ao Rio de Janeiro, o recatado Ari já não dava a menor importância à companheira de tantos anos.

Como grande produtor de cacau, Aristóteles foi ao Rio de Janeiro a convite da Ceplac, participar de um seminário cujo tema era o combate à vassoura de bruxa, praga que assolava a região de Itabuna e Ilhéus.

A noite, após o jantar, foi levado juntamente com os demais participantes do seminário a uma luxuosa boate, onde conheceu Sandra, uma linda e escultural morena de 24 anos.

Sandra dançava rebolando com luxuria, o vestido colado exibia o seu corpo de violão; Ari não conseguia desgrudar os seus olhos da morena. Assim que a moça o olhou, ele disfarçadamente fez um sinal chamando-a. Sorridente Sandra aproximou-se e atendeu o convite do fazendeiro para assentar-se.

Havia sim, em Sandra, algo que enlouquecia os homens. O seu rostinho de anjo, os olhos verdes tentadores, as pernas roliças as coxas grossas, o jeito de olhar e o modo de falar, alucinavam os homens. E com Aristóteles não foi diferente.

Sandra era conhecida de todos.

Todas as noites ela se fazia presente na luxuosa boate, dançava lascivamente para fisgar os freqüentadores e assim se manter. Quando depenava totalmente a vítima, ela simplesmente o dispensava; geralmente o coitado caído de amores pela morena era levado à ruína.

Às vezes a morena mantinha dois ou mais casos ao mesmo tempo, e assim vivia com todo luxo, despesas pagas no final de mês, servindo a dois ou mais patrões ao mesmo tempo.

A moça era estampa para qualquer concurso de beleza e diziam as más e boas linguas, que na cama era tida como a mais profissional de todas as meretrizes.

De retórica erudita falava três idiomas corretamente sem dar bola para a sintaxe. Discorria com facilidade sobre a poesia de Castro Alves a Olavo Bilac com tanta familiaridade que na roda todos ficavam boquiabertos com a sua erudição.

O romance instaurado entre Aristóteles e Sandra durou seis meses com direito a um cruzeiro a bordo do Costa Marine pela América do Sul, nem por sonho Matilde poderia um dia suspeitar daquela viagem entre o seu marido e a perdida do Rio de Janeiro. Ela que nunca saíra da Bahia.

Foi, portanto a viagem dos sonhos de Ari e sua morena.

Afora jantares à luz de vela acompanhada de Bourbon legítimo, salmão e trufas, tudo que a morena tinha direito no cardápio do navio, fora servido a bordo de sua suíte presidencial.

Grupos cantantes fizeram serenatas ao apaixonado casal sob a luz do luar. O velho Ari sentia-se um jovem, um adolescente.

A farra fora completa, com direito à compra de um casaco de pele na loja do navio. Peça desnecessária para quem vive debaixo de um sol escaldante de quarenta graus centígrados. Mas Sandra era mulher de capricho e tinha que ostentar perante as amigas, ao desembarcar, o que adquirira naquele novo affair.

Ari não poupava esforços para seduzir a sua fogosa amante. O desejo da morena virava uma ordem nem que fosse preciso por em perigo o próprio casamento de mais de quarenta anos de vida conjugal na bancarrota.

O velho se amasiara de vez com a morena que lhe revirava a cabeça a cada amanhecer.

Os amigos mais próximos tentaram tirá-lo daquele precipício - mas como todo cavalo velho gosta de capim novo -, Aristóteles se entregou de corpo e alma aos encantos da messalina.

Como todo velho que se apaixona por garota nova e não fugindo a regra, Ari acreditava piamente no amor de Sandra.

Aos amigos ele dizia que a morena era apaixonada por ele. Sandra por sua vez, interpretava com excelência o papel de mulher apaixonada. Às vezes simulava até ciúmes, fazendo cena de briguinhas com Ari, dizendo que ele estava olhando para outra mulher. O velho sorria satisfeito. Era a gloria.

As constantes viagens ao Rio de Janeiro levou Matilde à desconfiança, assim ela imprensou o marido contra a parede, fazendo com que confessasse o contubérnio com Sandra.

Como réu confesso Aristóteles compareceu ao escritório do advogado ajustado por Matilde. Concordou com todos os temos da separação e abriu mão de todo o patrimônio do casal. Ficou apenas com uma boa parte de dinheiro; arrumou sua mala e rumou rapidamente para a Cidade Maravilhosa, onde o seu “bem” o esperava.

Era o que ele mais queria.

Ari muito alegre com a separação expôs toda a situação a Sandra; no final do relato ela admirou-se dele não ter ficado com nada.

Fez um pequeno trejeito com o lábio inferior demonstrando contragosto na atitude por ele tomada.

Dois meses depois da separação, Aristóteles era visto sujo e despenteado de madrugada na porta da boate chamando por Sandra. O homem maltrapilho gesticulava ameaçadoramente enquanto a morena saía de braços dados com um senhor de cabelos grisalhos e ignorando totalmente o velho e acabado Ari, entrava sorridente numa reluzente BMW.