LONDRES

O casal estava parado, logo na frente ao Brunel Hotel 79-81 na Gloucester Terrace, Bayswater, em Londres, quando outro casal foi se aproximando , com ares de amigos de longa data. E, em um inglês carregado de sotaque, perguntam:

_Please, where is your adress Gloucester Terrace, 79-81?

Mostrando no lado direito do peito, um broche, com o formato de uma bandeira, a mulher parada perto do meio fio, se esforçou e buscou as palavras em inglês para responder:

_I’am not speak english. I’am speak portuguese.

Os quatros se olharam! De repente, riram, mas riram, até não poderem mais! Fazendo, com a alegria, os transeuntes sisudos pararem e olharem, com aquela reprovação, peculiar dos ingleses.

_Vigê Maria, mas que coincidência, bichinha, fui perguntar o endereço justo para um casal de brasileiros. Mas, como o mundo é pequeno, num é?

E logo se apresentaram.

_ Viemos de Fortaleza, Ceará. Sou a Daiana e o meu marido é o Roberto. Estamos felizes por encontrar vocês, nesse primeiro dia de nosso passeio, em Londres.

_O prazer é todo nosso! Eu sou a Miriam, e ele é o Dorivaldo. Viemos de Piracicaba, interior de São Paulo. E tenho a certeza; o endereço que vocês procuram é o mesmo em que estamos aqui em frente desse hotel.

O endereço era o ponto de parada mais próximo dos ônibus.

Não! Caro leitor, não é qualquer ônibus, que estamos falando, mas, dos famosos Routemaster, os clássicos carros vermelhos de dois andares. Serviam o sistema de transporte coletivo da capital britânica há cinquenta anos.

O casal cearense carregava um livro, semelhante à Bíblia Sagrada! Um olhar mais arguto logo perceberia, aquele era o guia turístico europeu. Roberto abriu a página, a qual continha o mapa geográfico de Londres, compenetrado iniciou a sua busca. Disse já ter um roteiro para esse primeiro dia, deveria iniciar na Torre de Londres (uma antiga fortaleza às margens do Tâmisa), pela proximidade do local, também visitariam a Tower Green (esse foi o local de numerosas execuções e nos dias atuais reúne à estonteante “Coleção de Jóias da Coroa”), após um lanche rápido, visitariam o British Museum.

Daiana olhando para o casal paulista fez uma proposta irrecusável.

_Vamos fazer os passeios juntos?

Miriam e Dorivaldo aceitaram sem pestanejar, ainda mais, por poder contar com a companhia de um casal de brasileiros, levando a tiracolo um guia turístico daquele tamanho.

Como dizia um “filosófico” ditado popular: é ajuntar a fome com a vontade de comer"!

Com todo esse embasamento teórico, sem dúvida nunca se perderiam em nenhuma das cidades ou capitais européias. Ah!Ledo engano!

Os turistas andaram até o ponto dos “vermelhos”, três tentativas, depois, de infrutíferas leituras das placas dos ônibus conseguiram ler o destino de um deles, então, acenaram, o veículo parou numa ruidosa demonstração de força. Subiram no famoso Routemaster. Nem acreditavam que estavam passando por aquela aventura.

Foram logo pensando em pagar as passagens, para dessa maneira, poderem subir ao segundo andar, e aí, sim, contemplarem Londres do alto. Mirian notou e mostrou algo fora do comum! O motorista trabalhava em uma cabine envidraçada, nela existia um buraco e junto ao mesmo, uma tigela de cobre azinhavrada pelo tempo, aonde deveria ser colocado o dinheiro da passagem.

Dorivaldo depositou o dinheiro das duas passagens referentes ao passeio. O motorista, com uma cara de poucos amigos prontamente o pegou e o depositou no cofre, Roberto também tinha as moedas trocadas e contadas, mas..., resolveu por conta própria, fazer uma gentileza e colocá-las na mão do motorista.

E esse ato impensado do Senhor Gentileza, deu o inicio, ao fim do mundo! O dito cujo motorista, gritava, esperneava, esbugalhava os olhos, acenava as mãos violentamente. Roberto assustado murmurou:

_Nossa! Será que ele está tendo um ataque epilético ou uma crise nervosa?

_Penso que o homem está nervoso, por algo que você fez meu querido!

_Mas, Daiana o que o levaria a falar tantos palavrões dessa maneira?

Sem dúvida, mesmo arranhando o inglês, qualquer mortal desse planeta, sabe reconhecer os palavrões. Faço aqui um parêntese: os palavrões convencionais, por ironia, em inglês são chamados de palavrinhas (four letter words).

_ Whore, crap, tease e arse, fuck you...

O motorista gritava e olhava para os passageiros comentando; o que havia acontecido, mostrando a todos, o casal cearense. Muito nervoso, voltava a gritar os impropérios:

_ Whore, crap, tease e arse, fuck you...

Os brasileiros não compreendiam o motivo de tanto estardalhaço! A cada novo passageiro, o mal educado contava a história, apontando para o segundo andar do ônibus, dizendo que lá estava o estrangeiro, que havia cometido aquele ato injustificável de grande iniqüidade.

E dessa maneira traumática teve início para os brasileiros um dos passeios na cidade, conhecida por todos como: “a dos homens mais gentis e educados da Europa”!