Ele tava lá

Ele estava sempre no sinal, a placa nas mãos, os pés descalços, a pele escura, o olhar nublado, a roupa suja. Era sempre assim todos os dias, talvez as pessoas que passam ali também reparam naquele sujeito, talvez não, será que apenas eu observo ele?

Na televisão de casa vejo a prefeita falar que estamos vivendo um grande salto pra frente, o presidente falar de um progresso, o Governador de um grande desenvolvimento, mas o que vejo todos os dias no sinal da rua 66 e um homem que tem um placa nas mãos e nelas está escrito "sinto fome, ajude"!!

O rosto apático, é sempre permanente, todos os dias parece piorar, as pessoas dentro dos seus luxosos carros, com o frio do ar condicionado, com o acochego de seus bancos de couro e com a barriga farta nem olham para aquele sujeito no calor do Sol de meio dia, no pé castigado pelo asfalto e a barriga seca.

Quando ele vai parar de ir para o sinal? Será no dia em que não sentir mais fome? No dia que derem um emprego descente pra ele (ou até mesmo um emprego indescente), mas que ao menos ele possa comprar seu próprio alimento. Enquanto isso vou observar o sujeito, sei que verei todos os dias seu sofrimento. Temos duas soluções a primeira nos indignar com essa situação, a segunda torcer para ele não sentir mais fome, qual você acha mais fácil?

Neto Almeida
Enviado por Neto Almeida em 21/09/2008
Reeditado em 27/09/2009
Código do texto: T1189360
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