AS INTEMPÉRIES DE UMA VIDA

Algumas coisas acontecem na vida da gente apenas para nos mostrar o quanto somos vulneráveis as intempéries da vida – ao meio em que vivemos. Por sinal, nem tudo é explicável – no ponto de vista da racionalidade –, entretanto, tudo que nos acontece é fruto daquilo que procuramos como sendo o melhor para nós, mas que depois nos mostra o quanto somos falhos em nossas escolhas.

Outro dia eu estava acabando de chegar ao meu ambiente de trabalho, quando uma nova funcionária passou a me olhar com certa insistência. Porém, o olhar dela não era lúbrico, nem de atração. Era o olhar de uma pessoa que parecia surpresa e, ao mesmo tempo, preocupada com a minha pessoa. Ao ser apresentado a ela, eu percebi no aperto de mão, um ligeiro tremor, e no seu olhar, um olhar de aflição.

Como eu tinha algumas coisas urgentes para resolver, acabei esquecendo esses detalhes e passei a me dedicar às tarefas daquela tarde, por sinal – desculpem a modéstia – todas bem resolvidas no seu final.

Na saída, quando eu ia atravessando a porta, ouvi alguém me dizer.

“- Professor, o senhor tem uma áurea linda. Deixe-me abastecer de sua energia positiva”, disse a nova funcionária, já ao meu lado, tocando-me.

Estranhei aquela atitude, mas como nesse mundo velho de Deus tem de tudo, apenas ri, deixando-me tocar.

“- Obrigado por me considerar assim, mas sou uma pessoa igual às outras, sem algo especial que me diferencie das demais”, disse.

“- Não. O senhor é especial, entretanto forças estranhas estão agindo para que alguma coisa de ruim aconteça na sua vida”, disparou sem nem mesmo tomar fôlego.

Olhei para ela espantado. Como pode uma pessoa que nunca me viu antes, que não sabia nada da minha vida, no primeiro contato, dizer uma coisa dessas!

“- Como você sabe disso? Você, por um acaso é sensitiva?” – perguntei ainda rindo, mas já com uma cara de preocupado (a gente nessa hora já imagina que o “ruim” é a morte. Bem, na maioria das vezes que alguém nos diz para nos prevenirmos, a tragédia está feita).

Esperando a resposta, eu fiz um rápido retrospecto das coisas que poderia me acontecer devido a um risco deliberado de minha parte. Só me vieram à cabeça duas coisas que faço arriscado: uma é dirigir. Porém, como sou atencioso no volante, apenas pensei em redobrar os cuidados. A outra coisa arriscada é acender interruptor de luz. Quer dizer, o bicho não era tão feio assim.

“- Apenas se previna professor, pois um grande desapontamento irá fazer parte de sua vida e, com certeza, lhe trará profunda tristeza e decepção”, completou dizendo que iria orar muito por mim.

O tempo foi passando, eu fui esquecendo – apesar de estar em contato diariamente com essa vidente – de que algo podia acontecer ou, como todo bom brasileiro e filho do Homem, deixei em suas mãos e vontade o curso dos acontecimentos.

Essa semana eu sofri uma das maiores decepções da minha vida, ocasionada por uma pessoa que me parecia ser a mais correta desse mundo, o que aumentou – e muito – a dor que eu senti.

Como foi de fórum íntimo, que por tabela envolveu a minha família, passei a refletir sobre o quanto o amor pode ser traduzido de várias formas – com o passar do tempo.

Como se fosse um sinal, recebi de uma pessoa querida um PPS, psicografado por Francisco Cândido Xavier, que dizia assim:

Vida – é o amor existencial; Razão – é o amor que pondera; Estudo – é o amor que analisa; Filosofia – é o Amor que pensa; Religião – é o amor que busca Deus; Verdade – é o amor que eterniza; Ideal – é o amor que se eleva; Fé – o amor que se transcende; Esperança – é o amor que sonha; Caridade – é o amor que auxilia; Fraternidade – é o amor que se expande; Sacrifício – é o amor que se esforça; Renúncia – é o amor que se depura; Simpatia – é o amor que sorri; Trabalho – é o amor que constrói; Indiferença – é o amor que se esconde; Desespero – é o amor que se desgoverna; Paixão – é o amor que se desequilibra; Ciúme – é o amor que se desvaira; Orgulho – é o amor que enlouquece; Sensualismo – é o amor que se envenena e, finalmente, o Ódio – que julgamos ser a antítese do amor, não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente.

Ainda estou tentando me levantar – conseguirei, com toda certeza –, pois o fardo é pesado, porém não é tanto que eu não possa erguê-lo para por nos ombros novamente.


 



Obs. Imagem da internet
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 21/09/2008
Reeditado em 04/12/2011
Código do texto: T1189003
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.