Casualmente, somente por acaso!
Por acaso, unicamente casualmente, tendo ido tratar de assuntos sérios na capital Salvador, me hospedei no hotel costumeiro, na Avenida Sete de Setembro esquina da Rua Politeama, e os recepcionistas já sabem, gosto do 24, estou falando do apartamento de número 24, pelo seu panorama privilegiado. Dali eu vejo tudo, até com surpresas, nas minhas noites de insônia; Já vi assaltos, motorista de táxi correndo atrás de um vigarista que lhe queria dar o cano; advogado bêbado em direção de automóvel querendo prender os policiais que o prendiam, negou-se ao bafômetro, mas o teor alcoólico era tanto que o parelhinho disparou a um metro da boca esverdeada de tanto conhaque com menta. Que falta de gosto!
Por acaso estava no hotel no domingo, dia 15 de setembro, quando saiu pela avenida a sétima versão da parada gay da Bahia, a partir das 11 horas da manhã. As ruas lotadas de tal modo que um roçava no outro, e foram 11 potentes trios elétricos a puxar e empurrar aquela multidão homogênea, na qual não se sabia quem era homem ou mulher mas confirmando que eles, ou elas, gostam da coisa grande. Curioso, depois eu perguntei a um, ou uma, jovem que também era hospede do hotel, vindo de Alagoas para participar do evento, qual a razão de tanto onze? Ele, ou ela, me explicou: “Onze é um atrás do outro!”. Tem lógica.
Vi ressuscitar, entre outras e de bengala, Dercy Gonçalves. O corpo pode ter alguma diferença, mas o rosto era igualzinho tal como a irreverência da recém falecida, e centenária comediante. Da janela, só da janela, vi “mulheres” lindas. Também vi, já no finalzinho do desfile, entre os carros estacionados um pipisódromo improvisado, onde mulheres (de verdade), homens e os astros e estrelas daquele dia, sem pudor e sem vergonha, arriavam suas cacinhas e cuecas para aliviar a bexiga. Havia alguns que do alto se via que não é mole não beber tanta cerveja! E assim os aderentes à parada vão se divertindo a cada versão. Não vi brigas ou tumultos, que se aconteceram estavam longe do alcance da minha visão.
Fiquei alegre comigo, pois aprendi a conviver com as diferenças, um processo de mudança que há muito tempo vem acontecendo. Afinal o Mundo não nos pertence, e cada um tem seu modo de vida. Não vi imoralidades que alguns tanto falam, só vi pessoas, divertidas e de bom humor, que optaram por um modo diferente de amar e viver. E realmente estão certos eles, ou elas, ao dizerem: “Não nos chamem daquele bichinho da floresta; somos gays e não nos envergonhamos”, suplicara também para que não haja tanta morte de homossexuais, vítimas dos boys que a eles exploram financeiramente. Mas ai já é um risco que elas, ou eles, assumem ao levar a tira-colo e as escondidas elementos quem nem conhecem, acreditando apenas numa grande honestidade, que muitas das vezes não existe!