A LEVEZA DO VENTO VERDE
A LEVEZA DO VENTO VERDE
Marília L. Paixão
Para que este vento em meus cabelos entristecidos? Para que esta lembrança mudando a cara deste final de noite? Já não passou tanto tempo depois da última vez que me feri com saudade da juventude mesmo não muito feliz? Brincadeira! Melhor fechar a porta! Não deixar este vento entrar.
Vá vento! Vá-se embora! Vá varrer ruas de terrenos baldios. Vá sem me deixar bilhetes ou nenhum compromisso. Deixe meu cabelo como está. Está cheiroso como se tivesse tomado um banho de vida e não de loções da cosmética cidade onde o corpo das mulheres vive passeando não importando se tristes ou felizes. Vá se embora vento, não vale trazer tristeza nem por um momento.
Mas dependendo da intenção talvez você deva voltar caro vento. Se sua intenção for leve, se trouxer ares breves... Se não veio para diminuir a beleza das maçãs... Quem sabe veio para me tornar verde? Você veio para me melhorar cor? Voltarei ao pé da macieira? Vou me rever nas relvas de outras montanhas?
Me leve por este passeio verde. Conduza-me como se eu fosse uma mulher de prata vestida de ouro, mas na verdade fosse mesmo um anjo que no final do passeio regressasse à macieira feito uma maçã verde ainda não pronta para ser colhida. Me leve por um passeio na infância para que eu volte dele tendo provado de todas as cores lindas.
Faça-me sentir leve como uma criança que não precisa crescer depressa e tem todo tempo para correr e brincar lá fora sem medo do escuro ou do novo dia. Que possa provar das frutas das mangueiras sem cair dos galhos. Aprender que as mangas verdes não caem com o vento, apenas as maduras.
Quem sabe vento você com essa leveza veio colocar um novo riso em minha mesa. E essa sua pressa em desfazer-me os cabelos seja para pintá-los de verde neste passeio manga e maçã. Olha vento como os meus cabelos já estão rindo com seus movimentos verdes sabor de hortelã.