A Leveza do Vento Sem Cor

Ai, ai! Era só o que me faltava. Eu, que sou quase um ogro pra falar de coisas leves e suaves. Euzinha, sutil como uma rinoceronte fêmea numa vidraçaria, em plena crise de TPM, acabo de aceitar a participação em um novo desafio. O mais pesado de todos: escrever sobre a leveza do vento.

Eu, que nem de vento gosto. Esse assanhamento do ar que, em movimento, se diverte em atravessar, aos silvos, frestas de telhas e janelas, balançar as plantas no jardim, disparando o alarme. Ele que estraga meus banhos de sol tumultuando toalha, cangas e nuvens, que bagunça meus cabelos quando vou ao encontro do meu amor. Ele que faz a areia grossa de São Luíz bater furiosa em nossas pernas e canelas, tornando a caminhada pela praia um passeio doloroso. É ele, réu confesso, quem lança longe guardanapos, relatórios e planilhas de sobre as mesas, bate portas e janelas, enche a casa de poeira trazida sabe-se lá de onde e espalha as chamas enquanto elas destroem o Parque Nacional da Água Mineral. Personagem importante na saga de Heatcliff, estou certa de que é ele quem faz o ar pesado e triste naqueles morros.

Isto posto, percebe-se que não vejo a menor graça no vento. De brisa eu gosto. De sua suavidade e gentileza, refrescando com uma delicadeza que eu não tenho, silenciosa como eu não sou.

Então, façamos assim...

Eu sou um ogro bem humorado. E se é pra falar de vento, vou falar, como eu sei... com humor.

Vou contar de como ele, sem leveza nenhuma, levantou minha mini-saia em frente à parada de ônibus onde meu professor de física esperava sua condução, fazendo-o dar-me o apelido de baixinha despudorada no colégio. Ou de como ele jogou terra em meus olhos, fazendo-me lacrimejar e, meu colega de faculdade me abraçou dizendo, em alto e bom som para que todos ouvissem:

- Não precisa ficar assim, eu nunca falei que não ia assumir, só não quero casar...

Enfim, o vento, para mim, pode não ter a leveza que dele se espera, mas rir das travessuras desse cara realmente me deixa bem mais leve.