Juventude preservada é...

Não sei bem como abordar esse assunto... Abordar ou começar? Começar a abordar. Pronto. Já estou começando. ...É sobre a idade... ...É, a idade, digo, o passar da idade. Melhor dizendo: a chegada paulatina da velhice. Eu disse paulatina! Ainda não propriamente “a velhice”, mas o caminho. Lento (não vou acrescentar penoso) e gradual (até porque não é). O que estou doido pra dizer mesmo é que dá uma raiva quando as pessoas perguntam: “já está aposentado?” Nãããoooo! Tô não! Então insistem: “pensei que já estivesse!”. Fico calado. E tem aí uma série de lances pitorescos nessas interações. Ainda bem que mais “experientes” a gente enfrenta com alguma dignidade. Dignidade de coroa, mas assim mesmo digna. Sim, porque até as dignidades são diferentes. O semblante universal de alguém digno é a seriedade suave estampada na face. Como a suavidade do “meia-idade” deve-se um pouco ao tempo vivido, lá se vai algum mérito por tê-la.

...E as roupas? Todo mundo espera ver o “meia-idade” vestido a caráter, isto é, social. Aí, além do espelho, aparecem os moderninhos e dizem: “você se veste de maneira muito conservadora! Parece um velho”. E você fica com aquela cara de quem vive fazendo seguro de vida pros parentes e consultando escondido a preços de túmulos no mais ajardinado cemitério da cidade. Decide então entrar nas lojas de tênis, saber a quantas anda o último show do Lenine e ousar no departamento ou loja de grife específica de roupas “mais jovens”. E no dia escolhido... Tchan! Você aparece no trabalho recauchutado. Faz o impossível para não perceber os olhares de curiosidade. No fundo, está com a vaidade à beira do enfrentamento com o arrependimento. Mas não vai recuar agora. Se os efeitos forem mais positivos que negativos, você segue garbosamente, digo, ligadão no visual que descolou, quando escuta o primeiro “todo boyzinho né?” Ô vontade de cantar aquela “musicazinha” que fez sucesso na Internet e ainda ganhou um prêmio da MTV! Aí lembra de tudo que gosta: HQ, rock... rock... É não tem muito mais coisa de jovens que goste tanto assim... Mas e daí? Tem muito jovem que nem de rock gosta! Melhor parar por aqui. As referências são tantas que eu iria passar o resto da vi... Peraí, eu ainda vou viver muito... Até a próxima!