Chefe do tráfico
Hoje foi um dia especial aqui na favela, não sei se devo chamar isso de favela, alguns dizem que tenho que chamar de comunidade carente, mas o fato é que moro aqui há vários anos e hoje foi o pior dia para os moradores desse morro.
No comércio nada funcionou hoje, não é feriado e nem muito menos domingo, morreu hoje o chefe do tráfico, era um rapaz forte, branco, andava sempre rodeado de mulheres lindas, seu carro, importado é claro, estava sempre brilhante, em sua cintura tinha sempre pendurado uma pistola, e seus guarda-costas, homens também do tráfico, o adoravam. Lembro que na festa de meu aniversário ele apareceu, tomei um susto, ele nunca tinha nem se quer falado comigo, mas apareceu quando fiz um churrasco de aniversário, o deixei entrar em minha casa, não tive escolha, aliás, no morro não temos muitas escolhas. Naquele dia ele me deu os parabéns e foi embora.
Sei que ele já matou várias pessoas, sei também que pessoas ricas de posição elevada na sociedade participam de festinhas regadas a drogas bancadas por ele. O fato é que a vida no morro é um pouco diferente, passa longe de ser um conto de fadas, passa longe de ser um local digno de viver tranqüilo, mas por outro lado, nós, simples mortais, devido nossa condição, não temos condições de nos mudar.
Como disse no início desse desabafo, hoje é um dia especial, pelo menos para mim, pois hoje existe um vagabundo a menos aqui no morro. Até mais chefão, ainda bem que você se foi.