Olhar de criânça.
O dia cansado de sua jornada começa a pedir socorro para que o entardecer traga rapidamente á noite. É um espetáculo sem igual da natureza. O dourado do sol cedendo espaço para a prateada lua que já dá sinais lá no horizonte.
Num movimento de vai e vêm as pipas com suas comprimidas rabíolas ao contrário não demonstram nenhum cansaço, por elas e seus criadores, as crianças, ficariam dançando perto das nuvens eternamente.
Percebe-se uma ou outra desgovernada. Significa que perderam a batalha pelos proibidos cortantes. E é assim que os meninos, depois de cumprir as tarefas passadas pelos adultos, passam o dia.
Não há idade definida. Há garotos de todas as idades, até mesmo adultos desempregados que se juntam a esses acrobatas nos finais de semana para não perder o hábito e a arte de empinar e relaxar.
Na parte de baixo do morro, onde o asfalto não engoliu toda a grama: duas dúzias de bois, incluindo as vacas pastam. Quem usa a trilha abrem caminho demonstrando medo algum.
Cavalos e mulas puxando carroças também disputam à longa avenida daquele pequeno canto da cidade. Os prédios cinza, construídos lado a lado são coloridos pelos rabiscos misteriosos de anônimos jovens.
Os pequeninos brincam do que podem. Boneca pára as meninas e bola para os meninos. No campo de cimento rústico a partida corre arrancando suor e desejo de vitória por horas a fio. Vejo um duende invisível para a maioria rezando para que ninguém caia. Se isso acontecer: a parte do corpo que tocar o solo vai virar um queijo suíço. É só imaginar o ralador como o predador do queijo.
Aqui a chuva e a noite tem algo em comum, todos correm para os jogos eletrônicos ou para a televisão. Parabólicas resistem ao vento e as ventanias, apesar de que vez ou outra o técnico ser chamado.
O dia amanhece e da parte alta da cidade as pipas coloridas espalham sua beleza sobre os pequenos edifícios quase urbanos.
Não acredito que as crianças olhem para a cor cinza do cimento, ou se preocupem com a quadra também de cimento.
Nem mesmo o inconveniente urubu atrapalha o festival de felicidade que paira no ar.
Aliás, os que moram perto do córrego que corre a céu aberto levando parte do esgoto, local preferido dessas aves praticam uma brincadeira de adulto - tiro ao alvo, claro que com pedras...
Latidos de cães e miados de gato se confundem com uma briga que desponta. Corro para o local e vejo que não é propriamente uma briga, mas um campo de batalha para pegar uma pipa cortada que esta preste a pousar na casa murada e guardada por cães. Um guerreiro pequeno me deixa perplexo. Numa fração de segundos em que os outros competidores atraem a atenção dos cães, ele numa velocidade espantosa pula o muro e sai com seu troféu, ligeiramente avariado. Há um código entre eles. Naquele momento a disputa cessa. E ele levanta a pipa colorida com as mãos sobre a cabeça, e sai correndo para em sua casa consertar as avarias, e amanhã, novamente empinar essa pipa representante de seus íntimos sonhos bem pertinho das nuvens...
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