ESTADOS DA VIDA
Poderíamos estar divagando sobre nossas desonras políticas, sobre as infidelidades de Antônio Carlos Magalhães, de José Roberto Arruda, de Jader Barbalho, sobre a apatia de nossa Justiça, sobre a decadência de nossa seleção canarinho, dos deboches de nossos criminosos, da mal programada economia de energia elétrica, das CPI´s que terminam em pizza, das CPI´s que não terminaram e já estão quase esquecidas e aquecidas no forno, enfim, sobre toda essa podridão já desvendada e não punida, além do que ainda está por vir e que está supitando às bordas de nossa descortinada vergonha, tão ironizada pelo planeta afora.
Mas, será que também eu virei Jornal da Globo, que não traz uma notícia que possa embalar suavemente o coração de nossa gente? Não... eu não sou Jornal da Globo. Quero ver meu povo sorrindo, cantando, trabalhando... em paz. Afinal, sou um aquariano e, fazendo menção das análises astrológicas, tudo leva a crer que se o mundo fosse povoado somente por aquarianos, nele não haveriam guerras. Na realidade, sou um admirador da natureza. O nascer do sol, o ocaso, especialmente em tardes de inverno, são sempre algo maravilhoso, sobretudo quando observados `a beira-mar, enriquecidos por aquela brisa refrescante que nos toca a pele. O céu estrelado das noites rurais nos parece muito mais bonito do que quando o olhamos por entre as frestas das selvas de pedras das grandes metrópoles. As montanhas, a vegetação, os animais , põem-me a refletir sobre as obras divinas e, quando penso em Deus, acende em mim a figura do ser humano. Mas, aquele ser humano ainda à Sua imagem e semelhança. Penso no homem, na mulher e suas distinções, seus valores individuais. Penso no que os atrai tanto!
De criação longínqua, o homem sempre se manteve, aparentemente, em posição de superioridade à mulher. Os casamentos que ainda persistem entre os nossos velhos de hoje, que o digam.
Os homens mandam, falam, exigem, gargalham e demonstram, através de atos rotineiros, o seu machismo. Mas, só Deus sabe que lá no fundo não é bem assim...
As mulheres obedecem, escutam, concordam, sorriem (choram por dentro) e mostram sua feminilidade e submissão exteriores, impostas... de longas saias... introspecção...excesso de preocupação maternal... pouca vaidade. Mas, só Deus sabe que lá no fundo não é bem assim...
Pelo casamento caminham unidos, também aparentemente. Chegaram à velhice e, assim, chegou a hora de se saber qual é , verdadeiramente, o sexo frágil. A morte se avizinha e, observando esta aproximação natural da vida , acabei por inspirar-me na realidade e, pensando na possibilidade de cada um ficar sem o outro, esbocei as poesias abaixo. Como fica a viúva, com a partida do maridão, e como fica o viúvo, com a partida da subestimada esposa.:
A VIÚVA
Era triste, chorosa
Desleixada, sem prosa
Sem brilho, murcha rosa
Angustiada, ansiosa.
Perguntei, era casada
Judiada, mal amada
Amargurada, trocada
Imperfeita, criticada.
Sorriu: a morte chegou
Reluziu: a morte o levou
Tristeza? Agora acabou
Angústia? A morte matou
Perguntei, feliz respondeu:
“Meu marido? Se desvaneceu”
A esperta gazela correu
Bela viúva, desapareceu.
O VIÚVO
Era alegre, divertido
Elegante, metido
Brilhante, bem vivido
Saudável, bem nutrido.
Perguntei, era casado
Escovado, bem tratado
Mulheres? Pra todo o lado
Marido desnaturado.
Assustou: a morte chegou
E agora? A morte a levou
Elegância? Agora acabou
A amante, que rumo levou?
Perguntei, baixo eu ouvi:
“Esposa? Não há mais aqui
Vaidoso, tudo perdi”
Velho viúvo, que pena de ti!