Um sonho?
Me perguntaram dia desses porque eu gosto tanto de escrever estas baboseiras. Questionaram-me se tenho isto como um hobby. Talvez fosse apenas uma forma de extravasar o turbilhão de sentimentos que entopiam minha mente e meu coração. Ou quem sabe um sonho, um desejo secreto de escrever e viver disto.
Não sei responder. Sinceramente, não me vem a mente uma resposta concreta. Eu simplesmente escrevia. "Escrevia", no pretérito, porque já não disponho de tempo para encher estas linhas com as bobagens sem sentido que saem da minha cabeça. Sempre tive problemas psicológicos. Eu sou doido, bipolar, essas coisas...
Mas também sempre fui orgulhoso. Não aceitava, e talvez ainda não aceite, o fato de que eu preciso de um tratamento psiquiátrico. Já está mais do que claro, tanto para mim quanto para o resto do mundo, que eu não tenho capacidade para, sozinho, colocar em ordem as insanidades da minha mente.
E o ato de escrever me ajudava neste ponto: eu me obrigava a colocar no papel/monitor aquilo que estava perdido entre os gritos e disfunções do meu cérebro. No papel, com uma linha sendo traçada letra após letra, parecia-me que as coisas se encaixavam. Parecia-me que os pensamentos tinham uma ligação entre si. Eu encontrava o "fio da meada". Comecei a escrever por um desafio de uma certa pessoa. Mais especificamente um professor. Se você imaginou um professor querido, que batalhou para me mostrar um talento, pode tirar o seu cavalinho da chuva. O professor em questão queria me ver "ferrado", com o perdão da expressão chula. Ele incendiou o meu égo, me desafiou a pôr no papel uma crítica decente ao trabalho dele. E foi assim, irado e contrariado, que eu escrevi meu primeiro texto. Uma crítica ao modo de trabalho do referido mestre. Uma bobagem de minha parte. Cedi a uma afronta, caí no jogo do infeliz. Me lasquei, mas descobri este "talento" para textos subjetivos.
Classificar este lixo como "talento" é um excesso de minha parte. Talento é algo que têm aqueles escritores que nos arrancam suspiros com seus romances, que nos levam a pensar com suas crônicas argumentativas. Meros textos sem sentido, sem "pé nem cabeça" como estes que aqui lanço jamais deveriam ser classificados como crônicas.
Mas enfim, me permitam a megalomania de me equiparar aos realmente talentosos. Afinal, tantos são os casos de pessoas sem talento que enriquecem. Porque não devo eu tentar também?
Mas, voltanto ao mote do texto...
O ato de escrever, para mim, é mais do que um hobby. Eu classificaria-o como uma fuga, uma forma de livrar meu coração das angústias que nele alojam-se. Não que tenha realmente adiantado. No fim, as angústias sempre retornavam, ainda piores do que antes. As confusões tomavam novas direções, mas acabavam por engrolar-se novamente, apenas em pontos diferentes. Tudo permanecia igual. A única diferença era que depois daquilo eu tinha por escrito toda uma descrição da confusão cerebral. Podia ler o texto e reviver aquela aflição, tentando entendê-la, buscando encontrar um padrão para quem sabe no futuro poder evitá-la.
Nunca adiantou...
Lá vou eu novamente, fugindo do assunto e fazendo outra choradeira...
Me desculpem vocês que estão lendo isto aqui (apesar de eu saber que ninguém está lendo), mas eu precisava colocar no papel esta confusão que me preenche agora.
Sei que textos assim não fazem sucesso. Ninguém quer ler as insatisfações e insanidades de outras pessoas. Todos querem literatura "pop", bobagens sobre felicidade e beleza. Bobagens para mim, apenas.
Entendo que para todas as outras pessoas do mundo, para as quais "felicidade" e "beleza" são realidades, tratar sobre tais assuntos seja algo simples. Mas para mim, que nunca vivenciei nenhuma das duas, tudo que eu disser será mera ficção.
E se eu já sou péssimo em textos objetivos, imaginem a desgraça que surge quando eu tento mirabolar...
Enfim, não era para este texto ter sentido. Não era para ele ser lido, não era para ser comentado. Sei que todos que lerem esta porcaria pensarão "espero que morra este infeliz, não fará falta", e sinceramente, concordo com tais pessoas.
Cheguei em um momento em que percebi que não faço diferença nenhuma no mundo. Minha presença prejudica as pessoas, torna-as infelizes.
E para terminar, só respondendo àquela questão formulada no título e desenrolada no decorrer do texto: talvez seja um sonho me tornar um escritor. Talvez por gostar de escrever, talvez por precisar de atenção. Tanto faz, não dará certo mesmo...